domingo, 30 de dezembro de 2012

Conclusões com perguntas

Gosto de terminar as conclusões com perguntas.
Gosto que as conclusões não sejam o ponto de chegada, mas sim o ponto de partida!

Acho que vou pôr uma pergunta - ou várias! - em todas as minhas conclusões!

sábado, 29 de dezembro de 2012

O parênteses de Gutenberg

Esta tese não é nova (nem estou a usá-la directamente em nenhum trabalho), mas foi referida en passant por Jeff Jarvis neste video e eu voltei a lembrar-me dela.

Basicamente, coloca a hipótese de a evolução dos media nos últimos quatro séculos - de Gutenberg à Internet - seja afinal um fugaz parênteses de literacia num modo de comunicação que era antes e continuará a ser depois sobretudo baseado na oralidade. E que isso tenha influenciado a maneira como comunicamos, a maneira como apreendemos o mundo e a forma como produzimos cultura.

Obviamente, há muitos pontos de cruzamento entre esta tese e muitas outras teses conhecidas da evolução dos media. Pegando apenas nas que estou a estudar ou estudei recentemente, lembro-me obviamente de Marshal McLhuan e a oralidade das sociedades pré-modernas, mas também vejo pontos de contacto nas teses de Yochai Benkler ou até na forma como, no seu livro mais recente - "Communication Power" - Manuel Castells liga o tipo de comunicação que fazemos à forma como pensamos.

Esta ideia é portanto - parece-me - extremamente poderosa e, se for verdade, tem consequências profundíssimas. Começando provavelmente por sugerir que a existência dos media - sustentados em modelos de negócios - pode ser afinal não mais do que um mero interlúdio histórico. Porque corresponderiam a um "confinement" da informação, entre "parênteses" de diferentes tipos, dando origem àquela palavra tão repetida pelos responsáveis dos media mas que parece tão desfasada do tempo da internet: "conteúdo". Mas isso talvez seja ainda o menos importante. Que consequências terá isso tido na forma como fazemos ciência e na ciência que fazemos? E na forma como nos organizamos socialmente? Em casas, por exemplo. E politicamente? Com constituições escritas. E leis escritas. E em países, com fronteiras? São assombrosas as perguntas que geram perguntas!

A tese do "Parênteses de Gutenberg" é da autoria de Tom Pettitt, professor de literatura inglesa clássica na Universidade do Sul da Dinamarca, em Odense. Não há propriamente um livro para sustentar a tese, mas há  um site onde se pretende que a investigação evolua, há um paper do próprio Pettitt e há várias referências espalhadas pela web, entre as quais esta a propósito de uma apresentação feita no MIT, do qual se fez o video abaixo. É longo (há um resumo escrito aqui), mas vale a pena ver para quem se interesse por estas questões. A tese é mind-blowing e é certo que não saímos dela como entrámos. Eu, pelo menos, não saí.

Gostava de voltar a esta tese algures no futuro. Pode ser que aconteça.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Yochai Benkler... um génio!

Vinha só dizer que Yochai Benkler é um génio!

É tudo.
De momento não tenho tempo para mais.
Espero um dia voltar ao tema!

sábado, 1 de dezembro de 2012

Hans Magnus Enzensberger

Não conhecia o pensamento de Hans Magnus Enzensberger e, pelo que já vi, parece-me que a academia não lhe tem dado o destaque merecido.

É verdade que Enzensberger não escreve segundo as regras estritas da academia (pelo menos na pequena parte que li), mas o que escreve merece ser citado. Decobri-o citado em "The Masses - The Implosion of the Social in Media", de Jean Baudrillard, com um trabalho chamado (em inglês) "Constituens of a Theory of the Media".

Eis alguns excertos de uns excertos que encontrei  a circularem por aí na internet [se alguma alma caridosa encontrar algo mais completo, sou todo ouvidos!]:


"For the first time in history, the media are making possible mass participation in a social and socialized productive process, the practical means of which are in the hands of the masses themselves. Such a use of them would bring the communications media, which up to now have not deserved the name, into their own. In its present form, equipment like television or film does not serve communication but prevents it. It allows no reciprocal action between transmitter and receiver; technically speaking, it reduces feedback to the lowest point compatible with the system."
"The development from a mere distribution medium to a communications medium is technically not a problem. It is consciously prevented for understandable political reasons. The technical distinction between receivers and transmitters reflects the social division of labor into producers and consumers, which in the consciousness industry becomes of particular political importance."

"George Orwell's bogey of a monolithic consciousness industry derives from a view of the media that is undialectical and obsolete. The possibility of total control of such a system at a central point belongs not to the future but to the past."

"The liberal superstition that in political and social questions there is such a thing as pure, unmanipulated truth seems to enjoy remarkable currency within the socialist left. It is the unspoken basic premise of the manipulation thesis."

"Thus, every use of the media presupposes manipulation. The most elementary processes in media production, from the choice of the medium itself to shooting, cutting, synchronization, dubbing, right up to distribution, are all operations carried out on the raw material. There is no such thing as unmanipulated writing, filming, broadcasting. The question is therefore not whether the media are manipulated, but who manipulates them."

"The new media are egalitarian in structure. Anyone can take part in them by a simple switching process. The programs themselves are not material things and can be reproduced at will. In this sense the electronic media are entirely different from the older media like the book or easel painting, the exclusive class character of which is obvious."

"Anyone who expects to be emancipated by technological hardware, or by a system of hardware however structured, is the victim of an obscure belief in progress. Anyone who imagines that freedom for the media will be established if only everyone is busy, transmitting and receiving, is the dupe of (a) liberalism (...)"

And so on...

Algumas das perguntas colocadas no final destes excertos também são interessantes. E não me importava nada de lhes responder...