segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Go (all) digital!

Neste mestrado, estou apostado em fazer outra coisa que me parece interessante: fazer todo o mestrado em formato integralmente digital!
Até ao momento não levei nunca para as aulas nem um papel nem uma caneta. Estou a usar o Evernote para tirar apontamentos, o Google Drive para guardar os papers e o Adobe para sublinhar, rascunhar e comentar. Vou obviamente usar o Google Docs associado ao Drive para apresentar os trabalhos escritos.
Ou seja, para as aulas levo apenas... o iPad! E o iPhone como back up!

O enigma das ciências sociais

"O grande continente inexplorado pela ciência é o da ciência social" - Dirk Helbing

http://edge.org/conversation/a-new-kind-of-social-inspired-technology

Esta conversa talvez seja interessante no contexto deste mestrado. Para Dirk Helbing, as ciências sociais serão a grande fonte de novos conhecimentos neste milénio. Esta é uma ideia que cola fácil com a realidade. Realmente, praticamente todos os outros ramos da ciência estão mais avançados em termos das certezas e guidelines que podem oferecer ao "utilizador" comum. As ciências sociais estão bem mais "atrasadas".

Mas, com todas as transformações que estão a acontecer no mundo social, é inevitável que a ciência seja confrontada com questões exigentes às quais terá que dar resposta. O post anterior é típico, no sentido em que qualquer discussão séria e profunda acerca das novas tecnologias de comunicação e das novas práticas e estruturas sociais que ela engendra leva inevitavelmente a um beco sem saída de dúvidas, perguntas sem resposta e especulações não fundadas.

Eu acredito que a inteligência humana progride de forma homogénea ou não progride. Por isso, quando eu e o meu filho de 14 anos falámos de carreiras com futuro, eu sugeri-lhe genética, biomecânica e desenho e concepção de jogos (o que, obviamente lhe agradou...). Mas depois de ouvir esta tese de Dirk Helbing fiquei a pensar que talvez ele tenha razão...

Informationalism, Networks, and the Network Society: a Theoretical Blueprint

Um dos primeiros textos que tive que ler para a cadeira de Dinâmicas Sociais da Internet foi este "Informationalism, Networks, and the Network Society: a Theoretical Blueprint", de Manuel Castells, que abre o volume mais vasto "The Network Society: a Cross-cultural Perspective".

É um pedaço de texto que vale a pena ler por quem se interesse por estas questões das novas tecnologias de comunicação e da forma como elas interagem com a sociedade, para ficar a perceber o que realmente está em causa! Aliás, tenho lido muitos textos sobre o tema, mas este foi certamente um dos que melhor explorou essa problemática nas suas múltiplas variantes. Procuro muitas vezes uma visão holística das questões que analiso. E, desse ponto de vista, este texto forneceu-me ideias muito, muito interessantes.

Destaco algumas dessas ideias-chave.

Desde logo, a ideia de que estamos a passar de uma sociedade dominada pelo "industrialismo" para uma outra dominada pelo "informacionalismo". Ou seja, estamos a mudar de uma sociedade piramidal para uma sociedade em rede. Até hoje, a informação fluía vertical e hieraquicamente através dos media tradicionais, hoje flui horizontal e democraticamente através da sociedade em rede. Bastaria isto para nos pôr a pensar. Mas há mais!

Actualmente, o que "é específico do nosso mundo é a extensão e aumento do corpo e da mente dos seres humanos nas redes de interacção através de tecnologias de comunicação baseadas na micro-electrónica e operadas por software. (...) Elas estão a convergir com novas tecnologias de engenharia genética" e estão a criar "uma nova estrutura social como fundação da nossa sociedade: a sociedade em rede."

A determinado ponto, Castells diz que "a capacidade reticular da capacidade de processamento distribuída e do desenvolvimento de software vai para além do limite das máquinas individuais e cria um sistema global, digital, de interacção homem-máquina, sempre pronto a funcionar." Estamos portanto perante um impulso historicamente incomensurável da nossa inteligência colectiva, a que chamaríamos, naturalmente, artificial. Ou seja, estamos a falar do "global brain" de que tanta gente tem falado, incluindo Jeremy Rifkin.

No novo paradigma colectivo - que, recorde-se, serve um também novo paradigma social - a capacidade de recombinar a informação nos vários nós da rede é a fonte de inovação no novo sistema, o que tem como consequência lógica que todas as regras (incluindo a protecção de direitos) criadas no sistema comunicativo do industrialismo são limites é progressão da inovação e à implementação do novo paradigma comunicativo e do novo tipo de sociedade. São portanto elementos... conservadores.

Para Castells, a sociedade em rede é um produto - acidental - de três processos separados: a crise do industrialismo (que - outra ideia interessante - teve duas manifestações distintas - o capitalismo e o estatismo); os movimentos dos anos 60 e 70 orientados para a liberdade individual; e os avanços nas tecnologias de informação e comunicação. Essas origens são aliás vistas como explicações para o ethos na nova sociedade em rede.

Outra coisa que Castells nota, com grande acutilância, é que estas tecnologias de comunicação são, necessariamente, globais e que portanto a sociedade em rede que se lhes associa é, também ela, global. E no entanto, os respectivos actores - as pessoas - são temporal e espacialmente localizados, cada um com a sua nacionalidade, cultura, língua, etc. Esta é uma contradição - uma "dissonância social", pode ser? -  interessante que mereceria ser mais estudada. Segundo Castells, a crise do Estado-Nação deriva em parte daqui. Aliás, as pulsões de agrupamento de estados - UE, por exemplo - derivam precisamente da intuição deste fenómeno. Mas isso, levar-nos-ia para outra discussão...

Por fim, Castells também percebe que o tripé Negócios/Política/Comunicação  (termos meus), que sustentava o mundo anterior à internet, está a ruir. Mas não é claro o que é que tomará o seu lugar. Castells usa o conceito de "criação de valor" para explicar como é que os media, as empresas e as instituições políticas actuavam em conjunto para manter um determinado "status quo". Obviamente, esse "acordo" está posto em causa (uma das razões: por causa da falência do Estado-Nação), mas Castells não arrisca uma resposta: a questão do valor "não tem uma resposta definitiva na sociedade em rede".

Gostaria de ter visto esta secção do texto mais clara, uma vez que me interessa muito a questão da atribuição de valor no novo panorama comunicativo. Parece óbvio que terá havido, em todas as fases anteriores de evolução da comunicação social, um conluio entre as empresas, o poder político e os media para "fazer funcionar" as coisas. E também não custa compreender que a atribuição de valor fosse parte desse conluio, mesmo que inconscientemente (ou seja, ninguém pensa - nem o próprio empresário - que as notícias do jornal diário eram pagas para transmitir a ideia de que eram importantes, nada disso). O que me parece - e já escrevi sobre isso - é que tínhamos um modelo de negócio perfeitamente montado para a realidade comunicativa anterior. E não temos nenhum para a nova. Provavelmente, a estruturação do modelo de negócio dos media pré-internet evoluiu em função das tecnologias que criaram esse modelo, tal como outro modelo de negócio virá a evoluir da estruturação do sistema de comunicação pós-internet. O que Castells sugere é que pode acontecer que o sistema capitalista seja impotente para o fazer (ainda vivemos em capitalismo, diz Castells. Ainda...). Isso hoje não parece estar ao virar da esquina, mas, tendo em conta a magnitude das mudanças em curso, é bem possível que até o capitalismo venha a ser afectado por elas. Aliás, nesta dicotomia, ganham novo relevo as tentativas das instituições oficiais, propagadas pelos media, de limitar o alcance das novas tecnologias sob o pretexto de ameaças à privacidade ou aos direitos de autor. Essa é uma guerra (a palavra neste contexto faz todo o sentido) latente.



Duas discordâncias apenas em relação a este texto de Manuel Castells.

Primeira e menos importante: Castells vê a engenharia genética como uma parte da revolução que está em curso nas tecnologias de informação e comunicação. Na verdade, problematizar a engenharia genética neste âmbito é algo que faz todo o sentido. E não há muita gente a fazê-lo. Craig Venter já falou várias vezes do impulso dado pelas tecnologias de informação ao estudo da genética. Mas, ao contrário de Castells, eu não acho que a genética seja parte da revolução em curso; o que acho - eu e certamente alguns autores que eu ainda não descobri... - é que ela "beneficia" desses avanços da tecnologia para dar os seus próprios passos no avanço do conhecimento. As tecnologias de informação são instrumentais - e não centrais - para o avanço da genética.

A genética, como aliás outros ramos do conhecimento, continuará a progredir tanto mais quanto mais "inteligentes" forem todos os processos que lhe são conexos. Ou seja, uma humanidade mais "inteligente" irá progredir em todos os campos e não apenas na genética ou na comunicação. E é neste ponto que também discordo - mais profundamente - de Castells quando ele afirma que "devemos desdenhar a noção de que a tecnologia ou a evolução social levaram inevitavelmente à sociedade em rede." Para Castells não há sentido pré-determinado da história e é por isso que cada sociedade se acha sempre a si mesma o clímax da evolução humana.  Talvez não haja um sentido pré-determinado da história; mas há certamente uma constante da história, que é a progressão da tecnologia (que aliás é um sub-produto da inteligência humana e da sua "acumulação"). Aliás, o próprio Castells afirma: "É verdade que tem havido uma tendência de longo prazo no sentido do desenvolvimento tecnológico que tem aumentado o poder mental da humanidade sobre o seu ambiente." Ora, é isso mesmo que está em causa quando falamos das novas tecnologias de informação. E, ao contrário do sugerido, isso não implica achar que a nossa sociedade é o clímax da evolução. Eu não acho nada disso! Muito pelo contrário: basta pensarmos na própria genética, na estimulação sensorial ao nível do córtex, na percepção sugerida ou nos mundos paralelos para percebermos que há muitas e mais impressionantes mudanças no nosso futuro do que nos nosso presente.

Seja como for, se todos os textos a estudar neste mestrado valerem um décimo do que vale este, já será excelente! Não sei o que vou fazer no futuro dentro do mestrado, mas uma coisa é certa: "Informationalism, Networks, and the Network Society: a Theoretical Blueprint", de Manuel Castells, vai andar sempre comigo!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

1º dia

O primeiro dia é sempre confuso. Apenas duas notas.

Primeiro, a confusão habitual com mails que não chegam, cartões que não estão prontos, sites em baixo e alterações de horários. Coisas típicas de faculdade, portanto. Suponho que haja universidades - daquelas "caras"! - que têm recursos suficientemente abundantes para não terem esses problemas e terem tudo bem organizadinho. Um serviço de excelência, portanto. Mas suponho também que essas são como um hospital com quartos individuais, leitor de DVD, cortinas eléctricas, reóstato de luz, climatização com filtro de pólens, etc. Ou seja, todas as mordomias que não são essenciais. Eu prefiro o essencial...

Na 2ªparte da tarde, com Dinâmicas Sociais da Internet entrámos na matéria propriamente dita, com passagens fugazes por Fernand Braudel, Manuel Castells, Mark Stefik, Roger Silverstone e Barry Wellman. A coisa promete...

Porquê este mestrado?

Fará no próximo ano 20 anos que concluí a minha licenciatura em Comunicação Social no ISCSP, ainda na velhinha Junqueira. Atendendo a que o último ano do curso foi passado já parcialmente a trabalhar e a concluir o trabalho final de curso, fará provavelmente agora 20 anos que deixei a academia. E nunca mais voltei!

Amanhã inicio o Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação do ISCTE-IUL, dirigido pelo Professor Gustavo Cardoso. Já há algum tempo que tinha vontade de voltar à academia. Esta era uma ideia que, durante os últimos anos, volta não volta regressava ao meu espírito. E quando deparei com este mestrado, fiz um pouco de flashback sobre quais eram as minhas expectativas quando saí da Universidade, qual tinha sido o meu percurso desde então e também como perspectivava o futuro. E fiquei com ainda mais vontade voltar!

 Esta foi a forma como tentei explicar as razões de candidatura na carta de motivação que juntei ao processo:

Lisboa, 30 de Maio de 2012 
Esta carta tem por objectivo explicar porque razão gostaria muito de frequentar o Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação do ISCTEIUL no ano lectivo 2012/2013. 
Eu concluí a licenciatura em Comunicação Social, no ISCSP-UTL, no ano lectivo 1992/1993. Na altura, a opção por este curso prendeu-se já com a abrangência do mesmo quanto às diferentes abordagens do fenómeno comunicação no contexto social – jornalismo, relações públicas, marketing e publicidade, etc. Já na altura me interessavam bastante as diferentes formas como a comunicação e a transmissão de informação interagia com as estruturas e as práticas sociais. 
Após a conclusão da licenciatura, iniciei uma carreira no jornalismo especializado, passando por várias publicações da área automóvel, todas editadas pelo grupo Motorpress, que publica variadíssimos títulos de imprensa especializada. Nesse percurso de quase duas décadas, fui jornalista do Guia do Automóvel, chefe de redacção do semanário Autohoje e director da revista Automagazine. 
Paralelamente, desde o início da generalização da internet que olhei o fenómeno como muito interessante do ponto de vista do seu papel na forma como a comunicação e a informação agem socialmente. E desde início que procurei acompanhar a evolução da internet e – tanto quanto possível – adaptar a oferta informativa que profissionalmente produzia, aos novos canais informativos que se abriam. 
Esta ligação às novas tecnologias de comunicação e informação então emergentes levou a que – desde há 2 anos – me tenha sido proposto o cargo de sub-director de multimédia da Motorpress Lisboa, com responsabilidade por desenvolver todos os novos canais e novas tecnologias de comunicação e informação relevantes para os títulos editados pela empresa. O cargo é extremamente aliciante e coloca-me – como será de calcular – no centro do “furacão” que actualmente varre os sector dos media e que, naturalmente, é “alimentado” pelas mudanças que estão a ocorrer nas tecnologias de comunicação e informação. 
Mas sempre achei – e continuo a achar – que a forma como a mudança colossal a que estamos a assistir nas tecnologias de comunicação de informação impacta os media tradicionais é apenas uma pequeníssima parte da forma como impacta a sociedade no seu todo e em múltiplas das suas variantes de funcionamento: da política à família; da pertença social à pertença nacional; do lazer às profissões, etc, etc, etc. 
Por isso, quase 20 anos depois de concluir a licenciatura e iniciar a minha carreira profissional, a vontade de voltar à academia começou a tornar-se cada vez mais presente. Tive oportunidade de assistir recentemente a várias conferências e palestras organizadas pela vossa escola que reforçaram a ideia de que há muito por aprender no contexto de rápida mudança em que as nossas sociedades se encontram. E é isso que me leva a candidatar-me a este mestrado: por um lado, a necessidade de perceber melhor a verdadeira profundidade social dos fenómenos comunicativos num mundo em mudança; e, por outro, o desejo de enriquecimento pessoal e curricular que essa aprendizagem me pode proporcionar. Num terceiro nível gostaria de – na medida do possível – dar um contributo de investigação para a compreensão desses fenómenos. 
Penso que no essencial está explicada a “motivação” para fazer o vosso mestrado, mas estou naturalmente ao dispor para aprofundar e/ou complementar qualquer informação que pretendam. 
Obrigado.
Há certamente cursos de pós-graduação mais adequados a quem queira ascender na escala profissional. Mais técnicos. Mais "how-to" em vez de "why". Mas não é isso que eu quero. Como há mais de 20 anos, quando escolhi o meu curso (recordo-me que tive esta mesmíssima sensação), o que eu quero é aprender! Reflectir sobre as coisas sem constrangimentos e procurar respostas para as perguntas que realmente interessam! Aquelas que me interessam!

Espero que o Mestrado me dê essas respostas e estou confiante que isso vai acontecer. Espero também conseguir "encaixar" o muito trabalho académico que espero ter a partir de agora entre a profissão e a família. Sei que não vai ser fácil. Mas, como se costuma dizer, "quem corre por gosto não cansa" e como nenhum desses "apartados" da minha vida está mais, espero conseguir conciliá-los a todos!