sábado, 23 de fevereiro de 2013

Os fãs das marcas de automóveis e a criação de valor

Para a cadeira de Culturas Digitais, Fãs e Web 2.0 era suposto escolhermos e estudarmos um fandom.
Eu procurei dirigir o estudo para aquilo que no fandom pode significar acréscimo de valor. E escolhi estudar nessa perspectiva o Fórum Autohoje Online. Primeiro porque é uma comunidade perfeitamente estabelecida e solidificada e, depois, porque basta olhar para ele para perceber que há muitas decisões de compra - muitas mesmo! - que são tomadas depois de uma "consulta" ao fórum. Ou seja, as recomendações peer-to-peer desempenham um papel fundamental para quem frequenta e consulta o fórum e, nessa medida, são um exemplo do tipo de acréscimo de valor que as comunidades online exercem sobre o seu objecto. Tanto em favor da marca ou marcas de que os membros da comunidade são fãs como em favor da plataforma na qual constituem a comunidade e exercem esse acréscimo de valor. Ou seja, neste trabalho interessava-me tentar perceber de que forma os fãs das marcas de automóveis que frequentam o fórum acrescem valor às marcas de que são fãs. Mas - tão ou mais importante - interessava-me também perceber como é que acresentam valor à própria comunidade, pois essas conclusões são aquelas que podem ser extrapoladas para todas as comunidades de user-generated content. Para o Fórum Autohoje Online mas também para o Facebook, o Twitter, o Instagram, o YouTube, até o Google Search. É isso que realmente é novo na forma como organizamos social economicamente a maneira de comunicar e é isso que me interessa estudar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Google, Facebook, Twitter e YouTube: os novos media da sociedade em rede

Este foi para mim o trabalho mais importante deste semestre. Por uma razão: de todos os que fiz é aquele que está mais próximo da espinha dorsal do que pretendo estudar neste mestrado.
Já há muito tempo que tenho a opinião de que, quando os media tradicionais olham para a internet fazem-no com uma perspectiva enviesada que tende a tomar os outros media tradicionais nas mesmas circunstâncias como os seus concorrentes. Adoptam essa perspectiva no pressuposto errado de que são produtores de informação quando na realidade são apenas seus distribuidores. Do ponto de vista da função social dos media, os seus concorrentes são na realidade as google, facebook, twitter e youtubes deste mundo. Na maior parte dos casos os media tradicionais até falam com orgulho - ironia - das suas páginas de Facebook, do seu Twitter, dos seus canais do YouTube, não percebendo que na realidade o que estão a fazer é a alimentar os seus coveiros! Aliás aquela ideia recente  - "saiam da internet!" pode até ser menos disparatada do que parece.
Outros media tradicionais confrontam as google deste mundo, mas, mesmo isso, fazem-no numa base errada: olhando para elas como uma espécie de piratas e não como concorrentes. Na realidade, em muitos anos a acompanhar estas matérias, acho que nunca vi ninguém ligado aos media tradicionais a olhar para estes "novos media" como aquilo que eles realmente são: os seus concorrentes nativos do novo mundo digital. Este trabalho é sobre isso. E penso que faz o essencial para o explicar.
Mas é também sobre duas outras ideias que na verdade se limita a aflorar e que requerem óbvia continuação no futuro: a redução do valor unitário da informação e as consequências económicas, sociais e até políticas que isso poderá ter. Isto sim, é o que me interessa!


domingo, 17 de fevereiro de 2013

A convergência da informação

A convergência da informação é uma tese argumentada, entre outros, por Henry Jenkins. Basicamente diz que os modos de expressão cultural que hoje conhecemos e que viveram durante muitos anos associados a diferentes "media" tendem a convergir para a internet: a televisão, a rádio, os "jornais", etc.
Isso obviamente levanta muitas questões interessantes em relação aos modos da narrativa. Transformações que estamos apenas a começar a vislumbrar e que estamos apenas ainda a "arranhar" em termos de investigação: os blogues e as redes sociais face aos media tradicionais; o YouTube face à televisão; o Spotify face à rádio, etc. Essas transformações nos modos de exercer a narrativa merecem estudo e gostava de poder abordar esse assunto algures neste mestrado, o que ainda não aconteceu.
Mas o aspecto mais interessante da tese da convergência está na forma como ela conjuga o determinismo e o voluntarismo. Determinismo tecnológico e voluntarismo social, para ser mais preciso.
Como Henry Jenkins vê bem, a convergência tanto pode ser um processo de cima para baixo, liderado pelas empresas, como pode ser um processo de baixo para cima, liderado pelos consumidores. Dan Schiller vê-a exclusivamente na primeira perspectiva; Yochai Benkler apenas na segunda. Será a "continuação do capitalismo por outras formas" se a primeira prevalecer; será uma revolução de consequências imprevisíveis se prevalecer a segunda. A escolha será social e não individual. Por isso é que os movimentos tipo "occupy" são tão interessantes: mesmo transcendendo largamente esta questão específica, eles representam a percepção, às vezes ainda difusa, de que há um património colectivo que é preciso reclamar, mas que não é fácil de delimitar e precisar. Se essa reclamação não for bem sucedida, a convergência dos media na internet tenderá a realizar-se ao serviço de interesses particulares. Mas realizar-se-á. Porque a convergência, para além de uma escolha social, é também uma determinação técnica.
No quadro da apropriação empresarial da convergência dos media na internet fala-se muitas vezes dos media tradicionais (os grande estúdios, as mega-editoras, a Walt Disney, os grande conglomerados de media), fala-se algumas vezes dos gigantes tipo Google, Facebook, Twitter, etc (que eu tentei apresentar como "os novos media" num trabalho que ainda não posso divulgar), mas esquece-se quase sempre estes actores, que "passam por entre os pingos da chuva" como se não fosse nada com eles: os fornecedores de acesso.
O que era a Meo (ou a Zon) há 25 anos atrás? O que era a At&T ou a Comcast há 35 anos atrás? Eu ainda me lembro de como aquilo que eram os TLP-Telefones de Lisboa e Porto se transformaram nos dois gigantes que são hoje a Meo e a Zon. Qual será a magnitude de acumulação de riqueza que explica esta transformação? E de onde vem esse dinheiro? Estas perguntas impõem-se sempre que vejo os anúncios da mais recente campanha da Meo, que tem precisamente a convergência dos media como eixo central. A convergência de media pode transformar-se em apenas isto: uma nova proposta comercial ao serviço afinal, não dos media ou dos fornecedores de informação, mas exclusivamente ao serviço dos donos das antenas e dos cabos em que a informação circula.
Eu já argumentei neste mestrado que a Google, o Facebook, o Twitter, o YouTube, etc, são na realidade os "novos media" (embora não com a documentação que gostaria). Falta-me analisar os fornecedores de acesso e a sua emergência como players principais no novo mundo da comunicação. Espero poder fazê-lo algures no decurso deste mestrado.

As contingências do discurso político no quadro da sociedade em rede

Este foi - de longe - o trabalho que me correu pior em todo o primeiro semestre. Por várias razões.
Primeiro porque a cadeira - Práticas Discursivas - é uma cadeira sui generis no contexto do mestrado, uma espécie de epifenómeno académico. O professor José Rebelo é um professor notável, à moda antiga, com um saber enciclopédico e - longe de irrelevante - com formação francófona numa área académica predominantemente anglo-saxónica. As suas aulas foram as melhores do semestre (com excepção das do professor Fausto Colombo, de que já falei aqui). Foi nas aulas do professor José Rebelo que voltei a ouvir falar de jornalismo no sentido clássico, de Baudrillard, Paul Ricoeur, Gilles Deleuze, Gilles Lipovetsky, Ortega y Gasset e, até, José Gil. Por isso, a avaliação muito centrada na análise linguística de um discurso foi para mim desde início uma dificuldade. Porque saía um pouco fora daquilo que pretendia fazer: contextualizar o estudo feito nesta cadeira com o caminho geral do mestrado; é isso que tenho procurado fazer sempre.
Segunda dificuldade: logo no princípio decidi que uma abordagem interessante seria analisar uma notícia de um jornal de referência - o Público ou o Expresso - e comparar essa notícia com os blogues de política que se referiam a ela. A ideia era usar uma notícia que tivesse a ver com a crise ou com a chamada "refundação do Estado Social", como esta, por exemplo. Pensei em fazê-lo usando o interessante serviço de tracking Twingly, que o Público era na altura (e penso que ainda é) o único grande media português a utilizar. Ora, só para me lixar (!!!) os senhores do Público decidiram mudar o site (e suspender temporariamente o serviço Twingly) justamente na semana/semanas em que eu tinha que fazer a avaliação.
Ou seja - terceira dificuldade - acabei por escolher um pouco à pressa o discurso que ia analisar e escolhi a carta dirigida por António José Seguro a Pedro Passos Coelho a propósito da refundação do memorando de entendimento, um documento tão inócuo como o seu autor. A ideia era analisar de que forma o exercício desse discurso era contingente, limitado e e condicionado pelas envolventes políticas e pela necessidade de tentar controlar os seus efeitos, e de que forma a respectiva interpretação e leitura ao nível da blogosfera era diversa, incondicionada e de certa maneira, incontrolável. Daí a referência à deterioração das condições de controlo do discurso político por parte dos agentes políticos. E isso era exactamente o que me interessas estudar nesta cadeira. E que - sinceramente - acho que devia ter ficado muito mais bem estudado. É portanto um tema a que gostaria de voltar mais à frente. Porque a consequência lógica da crescente dificuldade que os agentes políticos têm em controlar as condições de recepção e interpretação do discurso político é naturalmente o divórcio entre representantes e representados. E isso, tem tudo a ver com a situação política mais abrangente que hoje vivemos na maioria das democracias representativas.
Aliás, eu tenho centrado muito os meus estudos sobre as transformações da comunicação e das tecnologias de informação nas respectivas vertentes sociais e económicas. E isso tem sido propositado. Mas acredito sinceramente que é no campo político que essas transformações serão mais importantes e significativas. Esse é outro assunto que um dia gostaria de estudar. E se já li muitas coisas que me pareceram bastante interessantes do ponto de vista de explicarem o que é que se está transformar nas sociedades em termos económicos e sociais por causa da revolução da comunicação em curso, ainda não encontrei um autor que satisfatoriamente fizesse o mesmo no que se refere à política. Porque parece evidente a qualquer espírito lúcido que a magnitude das transformações em curso não podem deixar de ter um impacto massivo na política (o autor que mais se aproximou, na minha opinião, terá sido Daniel Innerarity; e gostaria de voltar a ele aqui um dia destes). Essa parte fica para o doutoramento... ;)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A inscrição da internet em McLuhan, Baudrillard e Habermas

A ideia para este trabalho para a cadeira de Teorias em Média e Comunicação surgiu durante uma aula em que falávamos de Habermas e da "esfera pública". Atendendo a que Habermas ainda é vivo, fiquei curioso de saber o que acharia ele da actual internet, uma vez que me parecia óbvio que dificilmente se poderia "inventar" algo que fosse tão obviamente a materialização - sublimada até - da referida "esfera pública".
Por outro lado, como não queria fazer o trabalho só sobre um autor, decidi juntar Baudrillard e McLuhan dentro do mesmo contexto: tentar perceber de que forma é que a internet veio desconstruir ou confirmar - se é que veio - as teorias de cada um deles sobre os mass media. Para mim, era também uma forma de conhecer melhor os 3 autores. Conhecia razoavelmente as teses principais de cada um, mas apenas tinha lido directamente Baudrillar, há muitos, muitos anos (aliás foi curioso recuperar os velhos e poeirentos "Para uma crítica da economia política do signo" e "A sociedade de consumo" para os redescobrir cheios de notas e apontamentos à margem sobre teorias da comunicação feitas por volta de 88/89...).
Percebi rapidamente que cada um destes autores dava um livro! Quanto mais um pequeno "paper"! Houve uma altura em que cheguei a pensar em fechar a coisa em McLuhan (foi o primeiro) e esquecer os outros. Mas, por outro lado, os outros - sobretudo Habermas - eram aqueles que tinha mais curiosidade de investigar. No fim, lá consegui levar a coisa até ao fim, com quase 20 páginas, que depois reduzi para pouco mais de 10 com alguns cortes e "engenharia de word".
Mas, como se pode ver pela bibliografia, este trabalho deu mesmo MUITO trabalho! Serviu-me de lição para os restantes! Foi uma espécie de tratamento de choque. Percebi que, se demorasse tanto a fazer os outros 4 trabalhos como tinha demorado a fazer este, nunca os iria conseguir entregar a todos. E por isso tive a preocupação de delimitar melhor os temas a partir daí.
Sobre o conteúdo do trabalho propriamente dito, só o "futurista" McLuhan é que verdadeiramente "entende" o que é a internet. Mesmo nunca a tendo conhecido! Baudrillard também tem algumas teses interessantes (as potenciais leituras "baudrillardianas" dos mundos virtuais, por exemplo, são intelectualmente muito estimulantes e gostaria de poder voltar a elas). Quanto a Habermas, o seu conservadorismo é realmente uma desilusão. A sua leitura da deterioração da "esfera pública" no tempo dos mass media é muito acertada, mas a sua recusa de aceitar o potencial democratizador da internet é frustrante.
Gostei de fazer este trabalho e sinto que aprendi bastante dos "basics", que era exactamente o que pretendia!


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

The Power of Google!

"MasterPlan - About the Power of Google" é um dos muitos documentários que podemos encontrar no YouTube (ironia...) sobre a ameaça que constitui a quantidade de informação abertamente ou sub-repticiamente recolhida pela Google (e outras empresas semelhantes) no quadro da nova sociedade em rede em que vivemos.

Para a cadeira de Participação Política e Poder na Era Digital, esse era um tema que desde muito cedo pensava abordar, embora não soubesse bem como. Quando falámos em aula sobre a forma como o Poder dos media se manifesta em sociedade, decidi que era por aí que iria. Depois, tive a sorte de me calhar em sorte um texto de Dan Schiller - "Power Under Pressure" - para uma apresentação em aula.

O resultado foi uma espécie de 2 em 1: uma apresentação em aula feita em grupo com o Tiago e um trabalho sobre a forma como a alteração da paisagem mediática afecta as relações de Poder dos media em sociedade.

Para a apresentação em aula escolhemos o Prezi e fizemos isto que está aqui:



Para o trabalho propriamente dito juntei Manuel Castells (o excelente "Communication Power"), Yochai Benkler (que já disse aqui que é um génio!) e o já referido Dan Schiller. Benkler é um optimista, Schiller é um pessimista e Castells é... um realista. No sentido em que o potencial "revolucionário" das mudanças é evidente, mas a forma como se materializarão irá depender dos factores políticos, económicos e sociais que as revestem.

Neste trabalho argumento que "com a deterioração do modelo de negócio dos media tradicionais e a expansão dos modelos de negócio dos “novos media” - como a Google, o Facebook e o Twitter, por exemplo - assistimos a uma recomposição do poder económico à escala global que provoca alterações na relação de forças entre os vários intervenientes na cadeia informativa e também na articulação entre as diversas fontes de poder." E é isto - precisamente isto - que é preciso perceber para não embarcarmos em utopias ou em teorias da conspiração como a do video citado no início. A realidade é muitos mais complexa do que qualquer dessas duas coisas. Para sorte de quem a pretende estudar!

PPPED-Os Novos Media e o Seu Poder by José Moreno