domingo, 30 de dezembro de 2012

Conclusões com perguntas

Gosto de terminar as conclusões com perguntas.
Gosto que as conclusões não sejam o ponto de chegada, mas sim o ponto de partida!

Acho que vou pôr uma pergunta - ou várias! - em todas as minhas conclusões!

sábado, 29 de dezembro de 2012

O parênteses de Gutenberg

Esta tese não é nova (nem estou a usá-la directamente em nenhum trabalho), mas foi referida en passant por Jeff Jarvis neste video e eu voltei a lembrar-me dela.

Basicamente, coloca a hipótese de a evolução dos media nos últimos quatro séculos - de Gutenberg à Internet - seja afinal um fugaz parênteses de literacia num modo de comunicação que era antes e continuará a ser depois sobretudo baseado na oralidade. E que isso tenha influenciado a maneira como comunicamos, a maneira como apreendemos o mundo e a forma como produzimos cultura.

Obviamente, há muitos pontos de cruzamento entre esta tese e muitas outras teses conhecidas da evolução dos media. Pegando apenas nas que estou a estudar ou estudei recentemente, lembro-me obviamente de Marshal McLhuan e a oralidade das sociedades pré-modernas, mas também vejo pontos de contacto nas teses de Yochai Benkler ou até na forma como, no seu livro mais recente - "Communication Power" - Manuel Castells liga o tipo de comunicação que fazemos à forma como pensamos.

Esta ideia é portanto - parece-me - extremamente poderosa e, se for verdade, tem consequências profundíssimas. Começando provavelmente por sugerir que a existência dos media - sustentados em modelos de negócios - pode ser afinal não mais do que um mero interlúdio histórico. Porque corresponderiam a um "confinement" da informação, entre "parênteses" de diferentes tipos, dando origem àquela palavra tão repetida pelos responsáveis dos media mas que parece tão desfasada do tempo da internet: "conteúdo". Mas isso talvez seja ainda o menos importante. Que consequências terá isso tido na forma como fazemos ciência e na ciência que fazemos? E na forma como nos organizamos socialmente? Em casas, por exemplo. E politicamente? Com constituições escritas. E leis escritas. E em países, com fronteiras? São assombrosas as perguntas que geram perguntas!

A tese do "Parênteses de Gutenberg" é da autoria de Tom Pettitt, professor de literatura inglesa clássica na Universidade do Sul da Dinamarca, em Odense. Não há propriamente um livro para sustentar a tese, mas há  um site onde se pretende que a investigação evolua, há um paper do próprio Pettitt e há várias referências espalhadas pela web, entre as quais esta a propósito de uma apresentação feita no MIT, do qual se fez o video abaixo. É longo (há um resumo escrito aqui), mas vale a pena ver para quem se interesse por estas questões. A tese é mind-blowing e é certo que não saímos dela como entrámos. Eu, pelo menos, não saí.

Gostava de voltar a esta tese algures no futuro. Pode ser que aconteça.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Yochai Benkler... um génio!

Vinha só dizer que Yochai Benkler é um génio!

É tudo.
De momento não tenho tempo para mais.
Espero um dia voltar ao tema!

sábado, 1 de dezembro de 2012

Hans Magnus Enzensberger

Não conhecia o pensamento de Hans Magnus Enzensberger e, pelo que já vi, parece-me que a academia não lhe tem dado o destaque merecido.

É verdade que Enzensberger não escreve segundo as regras estritas da academia (pelo menos na pequena parte que li), mas o que escreve merece ser citado. Decobri-o citado em "The Masses - The Implosion of the Social in Media", de Jean Baudrillard, com um trabalho chamado (em inglês) "Constituens of a Theory of the Media".

Eis alguns excertos de uns excertos que encontrei  a circularem por aí na internet [se alguma alma caridosa encontrar algo mais completo, sou todo ouvidos!]:


"For the first time in history, the media are making possible mass participation in a social and socialized productive process, the practical means of which are in the hands of the masses themselves. Such a use of them would bring the communications media, which up to now have not deserved the name, into their own. In its present form, equipment like television or film does not serve communication but prevents it. It allows no reciprocal action between transmitter and receiver; technically speaking, it reduces feedback to the lowest point compatible with the system."
"The development from a mere distribution medium to a communications medium is technically not a problem. It is consciously prevented for understandable political reasons. The technical distinction between receivers and transmitters reflects the social division of labor into producers and consumers, which in the consciousness industry becomes of particular political importance."

"George Orwell's bogey of a monolithic consciousness industry derives from a view of the media that is undialectical and obsolete. The possibility of total control of such a system at a central point belongs not to the future but to the past."

"The liberal superstition that in political and social questions there is such a thing as pure, unmanipulated truth seems to enjoy remarkable currency within the socialist left. It is the unspoken basic premise of the manipulation thesis."

"Thus, every use of the media presupposes manipulation. The most elementary processes in media production, from the choice of the medium itself to shooting, cutting, synchronization, dubbing, right up to distribution, are all operations carried out on the raw material. There is no such thing as unmanipulated writing, filming, broadcasting. The question is therefore not whether the media are manipulated, but who manipulates them."

"The new media are egalitarian in structure. Anyone can take part in them by a simple switching process. The programs themselves are not material things and can be reproduced at will. In this sense the electronic media are entirely different from the older media like the book or easel painting, the exclusive class character of which is obvious."

"Anyone who expects to be emancipated by technological hardware, or by a system of hardware however structured, is the victim of an obscure belief in progress. Anyone who imagines that freedom for the media will be established if only everyone is busy, transmitting and receiving, is the dupe of (a) liberalism (...)"

And so on...

Algumas das perguntas colocadas no final destes excertos também são interessantes. E não me importava nada de lhes responder...

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Simulacros e simulações

"The simulacrum is never that which conceals the truth - it is the truth which conceals that there is none. The simulacrum is true. "
Ecclesiastes


Esta citação está no início do "Simulacra and Simulation" de Jean Baudrillard. Na internet especula-se sobre a origem real da citação - parece que a fonte ainda não foi encontrada - mas uma coisa é certa: encaixa como uma luva nas teses de Baudrillard.
E, depois, é uma frase que dá que pensar!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Google, Facebook e Twitter: os novos media

Lembrei-me desta tese quando estava a preparar o draft inicial para um trabalho para uma das cadeiras do mestrado. O tema tem a ver com a desregulação do negócio dos media e isto, naturalmente, está relacionado. Provavelmente, ainda vai fazer parte da tese:
"Mas há outro aspecto – completamente separado deste – em que este alvoroço em torno da Google suscita reflexões interessantes. Que é este: para mim é sempre muito curioso ver a agressividade com que estas empresas – Google, Facebook, Twitter – procuram manter ou conquistar territórios negociais. Como se não soubessem muito bem o que é que na realidade fazem ou estarão a fazer daqui a 5 anos. E na verdade é isso mesmo que acontece. A Google é utilizada universalmente, o Facebook tem mais de 800 milhões de utilizadores e o Twitter está presente em todos os continentes e em todas as latitudes. No entanto, nenhuma as 3 empresas parece ter um modelo de negócio seguro (na verdade, o Twitter ainda está à procura dele). O Facebook, por exemplo, só hoje entrou em bolsa. E todas as valorizações incrementais que ao longo dos últimos anos lhe foram sendo atribuídas não eram mais afinal do que “expectativas de valor”, tal como, de certa forma, ainda são hoje, mesmo com a cotação em bolsa. Ou seja: percebe-se que qualquer destas empresas tem um potencial enorme, mas percebe-se pior qual é realmente o seu negócio do dia-a-dia, por comparação com essa expectativa. Mesmo no caso da Google. Claro que a Google faz milhões em publicidade, mas faz esses milhões com biliões de utilizadores e triliões de utilizações. Como sabe bem quem explora um media tradicional e o respectivo website, ganha-se mais dinheiro por cada “eyeball” no papel, por exemplo, do que com 100 na web. O que isso significa é que só a escala salva a Google (e o Facebook, que tem o mesmo modelo de negócio). Se não fosse a escala enorme em que estas empresas se movimentam – Google, Facebook, Twitter, etc – qualquer delas seria um insucesso económico. Porque é que não há concorrentes (reais) da Google ou do Facebook ou do Twitter? Já pensaram? É por isso mesmo: porque concorrentes mais pequenos não têm escala para serem rentáveis! Para termos uma noção da situação basta imaginarmos o que seria uma BP ou um Wal-Mart com mais de 800 milhões de clientes! É esta a escala a que operam estes gigantes com pés de barro!

Por isso é um erro dizer que estas empresas estão a mudar o modelo de negócio. Wrong! Elas estão a “pulverizar” o modelo de negócio! Isso sim! Como aliás os media tradicionais sabem muito bem.  É óbvio que elas estão a “desregular” algo, mas não é claro que estejam a “regular” o que quer que seja! Provavelmente ainda iremos descobrir que no futuro os negócios estarão organizados de uma maneira muito diferente. Ou até que não haverá negócios, apenas serviços sem fins lucrativos! Não sabemos como será o futuro. Mas sabemos que provavelmente não é isto que hoje temos: um gigante em cada sector, com uma escala enormíssima e uma rentabilidade minúscula.

O que parece – hoje – é que estes gigantes – Google, Facebook, Twitter — são mais plataformas do que empresas; são mais um serviço público do que um negócio. E é por isso – só por isso! – que esperamos que elas estejam do lado do Bem e não do lado do Mal! E é por isso que tantas vezes nos incomodamos e revoltamos com os seus “termos de serviço” e as suas “políticas de privacidade”. Alguém alguma vez procurou saber quais são os Termos de Serviço e a Política de Privacidade do Pingo Doce?

Isto está mesmo a mudar. Muito e depressa. Não sabemos é para onde!"

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Digital divide... ou... technological tsunami?

E vocês ainda acham que o digital divide pode ser um objecto de estudo??


É como estudar as conchas da praia no dia do tsunami!

Bravo, signore Colombo!

Duas excelentes aulas, ontem e hoje, com o professor Fausto Colombo, da Universidade Católica de Milão, para a cadeira de Questões Europeias de Cultura e Comunicação.

Falámos de digitalização dos media, do fosso geracional, da nostalgia, de Foucault na era da web 2.0, dos modelos de negócio digitais, da expressão moderna do self e das redes sociais na política. Quem está na rede Academia pode ver aqui vários trabalhos.

Toda a gente adorou e - não tenho dúvidas - muitos de nós decidiram os seus papers nestes dois dias!

Bravo, signore Colombo!

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Mundividência, "lifeworld" e ideologia

São ou não são curiosas as semelhanças entre os conceitos de "mundividência" - a nossa maneira de ver o mundo (ou "mundivivência" - a nossa maneira de "viver" o mundo!) - como melhor tradução possível para o "lifeworld" de Habermas, por um lado, e o conceito de "ideologia", historicamente carregado de significados, por outro?
A diferença é que o conceito de "mundividência" está antes da política e incorpora-a. É um conceito puro e sociológico. E por isso é politicamente agnóstico, como devem ser todos os conceitos científicos e aqueles que realmente explicam o mundo!

Já agora, só por curiosidade...

O que é que McLuhan acharia dos tablets?

No seu "The Structural Transformation of the Public Sphere", de 1962, Jürgen Habermas estabelece a determinado ponto uma diferença óbvia entre os meios impressos - ele desenvolveu sua a teorização da esfera pública sobretudo a partir dos  jornais - e os meios electrónicos, como a rádio, o filme e a televisão, considerando que nos primeiros o leitor tinha que manter com o media uma certa distância. Distância essa, que, naturalmente, facilitava o seu domínio da respectiva apropriação e portanto a "racionalização" da sua relação com ele. Isto já é em parte interpretação minha, mas parece seguro deduzir que para Habermas os media electrónicos impunham-se ao individuo de uma forma imediata e isenta de interpretação.  E era isso que impedia a realização do ideal de esfera pública no quadro dos modernos mass media (Habermas explicou-o de uma forma "um pouco" mais complexa).

O conceito de media "quente" ou "frio" é dos mais controversos e diferentemente interpretados de Marshal McLuhan. Na verdade, suponho que ainda ninguém percebeu muito bem o que é que ele queria dizer com aquilo. Mas existe aqui um curioso cruzamento entre as duas ideias. De facto, existe uma diferença óbvia entre a escrita e os meios electrónicos no envolvimento que exigem. Se os meios electrónicos são extensões óbvias dos olhos e dos ouvidos, a escrita não o é (ou é - quando muito - uma extensão da visão substancialmente diferente de um televisor, por exemplo). A escrita exige sempre um processo de descodificação (racional) que estabelece uma distância e uma postura interpretativa diferente dos outros. E isso faz toda a diferença em termos da nossa capacidade para racionalizarmos sobre o que nos chega por essa via. Isto - se não foi - devia ser estudado!

Outra coisa: neste contexto dos media como extensões dos sentidos, seria interessante saber o que Marshal McLuhan acharia dos tablets. À primeira vista diríamos que iria considerá-los uma extensão do tacto. Mas - como sabemos -McLuhan não era muito dado a interpretações convencionais. E - de facto -  assim que pensamos um pouco melhor no assunto percebemos que afinal podem ser bem mais do que isso. É impossível que a forma como interagimos com a realidade (sim, realidade!) cada vez mais através de ecrãs tácteis não tenha consequências ao nível da nossa forma e das nossas expectativas de apropriação do mundo. Isto - se não foi - também devia ser estudado!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Só para quem achava que McLuhan era um utopista...


"I am resolutely opposed to all innovation, all change, but I am determined to understand what’s happening. Because I don’t choose just to sit and let the juggernaut roll over me. Many people seem to think that if you talk about something recent, you’re in favor of it. The exact opposite is true in my case. Anything I talk about is almost certainly something I’m resolutely against. And it seems to me the best way to oppose it is to understand it. And then you know where to turn off the buttons."

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Megaupload segundo Habermas



Esta entrevista de Kim Dotcom é a todos os títulos notável. Quem achar que o Megaupload é que é o problema é porque realmente não percebe nada do que se está a passar.

Em primeiro lugar porque  Kim Dotcom exibe, um a um, todos os argumentos - todos! - que defendem empresas como a sua em casos como o seu. E que explicam, de uma forma cristalina, como ele (ainda por cima por causa da sua personalidade exuberante e exibicionista) está a ser usado como exemplo e como bode expiatório. Faz lembrar Julian Assange e o paralelo está longe de ser inocente.

Em segundo lugar porque - como ele afirma, e bem! - a Microsoft também o está a fazer, a Google também, até a Ubuntu. Ou seja: ele é, como a Google, o Facebook, o Twitter ou o Instagram, um intermediário. Ele é o middle man. E culpar hoje o middle man é o mesmo que culpar o mensageiro. Confrontar o mensageiro - seja ele o Megaupload ou a Google - é desviar a atenção do essencial. O que importa, o que realmente importa, é aquilo que está a acontecer entre os pontos que o mensageiro une.

E é aí que entra Habermas. O que eu acho que está a acontecer, sinceramente, é desmercatilização da informação. A informação está a deixar de ter valor comercial. Habermas explicou como o lado comercial da informação destruiu o jornalismo, a esfera pública e a própria política. Pois bem, aquilo perante que estamos é exactamente a inversão desse caminho: a informação, que deixou de ter valor comercial por efeito da sua abundância, volta a instituir as virtudes clássicas do jornalismo - a internet é hoje uma réplica quase perfeita do jornalismo literário de Habermas - volta a instituir uma verdadeira esfera pública (já agora.. global) e repõe o primado da política. O mundo de hoje não pode deixar de ser, aos olhos de Habermas, um  mundo melhor!

Marshal McLuhan

Marshal McLuhan por volta de 1963-64.
Reparem no trecho a partir do minuto 1:07


"Em vez de comprar um livro, do qual foram impressas 5.000 cópias, uma pessoa irá ao telefone, descreve as suas necessidades, os seus problemas, e eles, com ajuda de todas as bibliotecas do mundo vão imprimir em xerox um exemplar só para si, pessoal, não para ser vendido na livraria, e enviam-lhe o livro como um serviço pessoal. É neste caminho que vamos, com as informações electrónicas." 

Na altura ainda não havia internet...

sábado, 3 de novembro de 2012

Leituras de Habermas

Dos grandes teóricos da história dos estudos de media, Habermas é um dos que conheço pior. O que conheço dele é aquilo que da sua vasta produção teórica "transbordou" para outros pensadores que lhe são posteriores. Por isso, foi sempre para mim uma figura distante.

Estou a estudá-lo agora, em preparação para um trabalho para a cadeira de Teorias em Média e Comunicação.

Daquilo que tenho estado a ler, gostaria de destacar duas ideias que me parecem interessantes e implicações ainda mais interessantes.

A primeira é a de que as primeiras motivações dos jornalistas eram políticas e que só quando o sistema político burguês se solidificou é que os jornalistas se puderam libertar da sua função política e "aproveitar" (a palavra é dele) as possibilidades comerciais da sua actividade (o que viria a dar nos modernos mass media). E - se olharmos para o presente - até cá em Portugal - é impossível não re não parar como essa observação encaixa como uma luva na realidade, em que temo duas, só duas, razões para que um meio de comunicação social exista: políticas ou económicas. Se olhas para um jornal e não vislumbras razões económicas para a sua existência, então procura as razões políticas. Se olhas para outra e não vês razões políticas, então é porque ele existe por razões económicas. Claro que tanto em ambos os casos estamos perante instrumentos de poder. Mas isso levaria-nos para outras discussões e... para outros autores.

A segunda ideia interessante relaciona-se com a forma como ele descreve a ascensão da burguesia como resultado da sua "modernidade" em relação aos restantes estados da sociedade feudal. Habermas não o afirma, nem sequer o pergunta, mas eu fiquei a questionar-me se não terá sido essa "modernidade" que levou ao seu triunfo histórico. E, por modernidade, entendo aqui simultaneamente o domínio das novas técnicas/tecnologias e o domínio dos conhecimentos (económicos) necessários à nova economia que então se estava a criar. Ou seja - consequência lógica - será que a história pode ser lida à luz do progresso tecnológico? É uma boa hipótese de investigação que - a avaliar pelo que tenho vindo a perceber neste primeiros tempos de mestrado - já alguém certamente investigou...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Sem palavras...

"Anyone can post information to the Wikileaks.org Web site, and there is no editorial review or oversight to verify the accuracy of any information posted to the Web site. Persons accessing the Web site can form their own opinions regarding the accuracy of the information posted, and they are allowed to post comments."

Relatório do Departamento de Defesa norte-americano, publicado em 2008, a propósito do Wikileaks. Sublinhado meu.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Jean Baudrillard e a inscrição "ideológica" da objectividade jornalística na sociedade

Ontem, na aula de Teorias em Média e Comunicação, ouvi falar outra vez de Harold Lasswell, com a teoria hipodérmica, e de Paul Lazarsfeld com o seu Two-Step Flow of Comunication. Nomes e conceitos que não ouvia - e não utilizei - desde que fechei os livros há 20 anos. Fizeram-me falta? Nem por isso. Foram-me úteis? Certamente!
É muito curioso que, em 20 anos de jornalismo, nunca, que me lembre, tenha utilizado nenhum desses autores - ou as suas teses - em qualquer discussão ou decisão editorial. E no entanto a sensação que tenho é que eles estiveram lá sempre presentes, como fantasmas, por detrás do trabalho jornalístico de todos os dias.
Lembrei-me então das críticas que, enquanto jovens, fazíamos, quase todos, ao carácter muito teórico e pouco "profissionalizante" do nosso curso do ISCSP. Já na altura assim me parecia e agora confirmo: não há nada mais útil do que uma boa teoria!

Hoje, na aula de Práticas Discursivas do professor José Rebelo, voltei a recordar um nome longamente esquecido - Jean Baudrillard. Noutra aula já tínhamos falado também de Gilles Lipovetsky - dois autores que me lembro de ter lido há muitos muitos anos com ainda maior interesse.

Falámos de Jean Baudrillard a propósito desta tese fantástica: Os mass media procuram o maior denominador comum entre todos os públicos, procuram os temas do interesse do maior número possível de potenciais leitores/espectadores/ouvintes, procurando não hostilizar nenhuns. É neste contexto que se desenvolve o discurso da objectividade que vem até aos nossos dias. Ou seja - interpretação minha - a crença na objectividade jornalística (e a sua procura, pelo menos) é o resultado de um longo processo de inscrição ideológica do jornalismo na sociedade. Ou seja, o paradigma de comunicação vigente numa determinada época tende a inscrever-se ideologicamente na sociedade em que se insere e à qual serve. Hoje, vivemos provavelmente os dias finais de um paradigma de comunicação e da correspondente inscrição ideológica na sociedade. Já se discute o conceito de objectividade (ele inclusivamente já saiu do código deontológico), mas ainda se toma a objectividade como um valor de referência (aliás, depois da aula isso foi naturalmente tema de discussão acesa!)
A minha impressão é que, à revolução em curso no paradigma de comunicação, corresponderá uma "pulverizacão" completa do conceito de objectividade informativa. Com a profusão de blogues, redes sociais, plataformas de imagem e video, em que cada indivíduo pode ser autor/emissor, a subjectividade predomina sobre a objectividade. Isso já é notório em muitos aspectos e tenderá a sê-lo cada vez mais. Obviamente - como se comentava na discussão posterior - assim que largamos a objectividade como referencial (mesmo que o substituamos por algo como "honestidade"), abrimos caminho ao relativismo. E isso, hoje, a nós, ainda filhos da inscrição ideológica referida acima, suscita-nos muitas dúvidas. 
Mas, se calhar, também é para isso que serve um mestrado... Não para nos dar certezas, mas para nos levantar dúvidas!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O futuro da web

Ora aqui está algo que - suspeito... - ainda vai dar muito que falar:

"Another interesting feature of the evolution of the Web arises from the fact that it was designed to become ubiquitous. The Web is open and free, but the successful companies that emerge at each stageof its evolution become monopolies. It’s a winner-take-all world, and the usual rules of market economics don’t apply."

É uma citação de Wendy Hall no artigo "The ever evolving web: The power of networks", publicano no International Journal of Comunication nº5, um dos textos em estudo para a cadeira de Participação Politica e Poder na Era Digital, da professora Rita Espanha.

A ideia é muito interessante e confirmada over and over again pela realidade. Google, Twitter, Facebook são todos quasi-monopolies que na realidade - como já tenho escrito noutros locais - apenas por causa da sua escala - necessariamente global - conseguem ter resultados económicos relativamente interessantes (e mesmo assim...). Tire-se-lhes a escala - pelo menos como abstracção teórica - e tornar-se-á óbvio que, tal como refere a citação, "the usual rules of market economics don’t apply".

Eu diria mesmo mais: como Manuel Castells pressente - e verbaliza aquilo que todos pressentimos - se calhar the rules of capitalism also don't aplly! Ou seja, voltamos ao conceito de serviço público de televisão - um conceito que, com muitas diferenças, emergiu em praticamente todos os países "capitalistas" desenvolvidos - para perguntar se não devemos prever um serviço público de internet, necessariamente global, como a própria internet.

Esta é obviamente uma reflexão to be continued...


No mesmo texto de Wendy Hall - que aliás é uma boa súmula do que tem sido a evolução da web - encontramos também este interessante grafismo no limiar da web semântica. Vale a pena reter como referência:


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Go (all) digital!

Neste mestrado, estou apostado em fazer outra coisa que me parece interessante: fazer todo o mestrado em formato integralmente digital!
Até ao momento não levei nunca para as aulas nem um papel nem uma caneta. Estou a usar o Evernote para tirar apontamentos, o Google Drive para guardar os papers e o Adobe para sublinhar, rascunhar e comentar. Vou obviamente usar o Google Docs associado ao Drive para apresentar os trabalhos escritos.
Ou seja, para as aulas levo apenas... o iPad! E o iPhone como back up!

O enigma das ciências sociais

"O grande continente inexplorado pela ciência é o da ciência social" - Dirk Helbing

http://edge.org/conversation/a-new-kind-of-social-inspired-technology

Esta conversa talvez seja interessante no contexto deste mestrado. Para Dirk Helbing, as ciências sociais serão a grande fonte de novos conhecimentos neste milénio. Esta é uma ideia que cola fácil com a realidade. Realmente, praticamente todos os outros ramos da ciência estão mais avançados em termos das certezas e guidelines que podem oferecer ao "utilizador" comum. As ciências sociais estão bem mais "atrasadas".

Mas, com todas as transformações que estão a acontecer no mundo social, é inevitável que a ciência seja confrontada com questões exigentes às quais terá que dar resposta. O post anterior é típico, no sentido em que qualquer discussão séria e profunda acerca das novas tecnologias de comunicação e das novas práticas e estruturas sociais que ela engendra leva inevitavelmente a um beco sem saída de dúvidas, perguntas sem resposta e especulações não fundadas.

Eu acredito que a inteligência humana progride de forma homogénea ou não progride. Por isso, quando eu e o meu filho de 14 anos falámos de carreiras com futuro, eu sugeri-lhe genética, biomecânica e desenho e concepção de jogos (o que, obviamente lhe agradou...). Mas depois de ouvir esta tese de Dirk Helbing fiquei a pensar que talvez ele tenha razão...

Informationalism, Networks, and the Network Society: a Theoretical Blueprint

Um dos primeiros textos que tive que ler para a cadeira de Dinâmicas Sociais da Internet foi este "Informationalism, Networks, and the Network Society: a Theoretical Blueprint", de Manuel Castells, que abre o volume mais vasto "The Network Society: a Cross-cultural Perspective".

É um pedaço de texto que vale a pena ler por quem se interesse por estas questões das novas tecnologias de comunicação e da forma como elas interagem com a sociedade, para ficar a perceber o que realmente está em causa! Aliás, tenho lido muitos textos sobre o tema, mas este foi certamente um dos que melhor explorou essa problemática nas suas múltiplas variantes. Procuro muitas vezes uma visão holística das questões que analiso. E, desse ponto de vista, este texto forneceu-me ideias muito, muito interessantes.

Destaco algumas dessas ideias-chave.

Desde logo, a ideia de que estamos a passar de uma sociedade dominada pelo "industrialismo" para uma outra dominada pelo "informacionalismo". Ou seja, estamos a mudar de uma sociedade piramidal para uma sociedade em rede. Até hoje, a informação fluía vertical e hieraquicamente através dos media tradicionais, hoje flui horizontal e democraticamente através da sociedade em rede. Bastaria isto para nos pôr a pensar. Mas há mais!

Actualmente, o que "é específico do nosso mundo é a extensão e aumento do corpo e da mente dos seres humanos nas redes de interacção através de tecnologias de comunicação baseadas na micro-electrónica e operadas por software. (...) Elas estão a convergir com novas tecnologias de engenharia genética" e estão a criar "uma nova estrutura social como fundação da nossa sociedade: a sociedade em rede."

A determinado ponto, Castells diz que "a capacidade reticular da capacidade de processamento distribuída e do desenvolvimento de software vai para além do limite das máquinas individuais e cria um sistema global, digital, de interacção homem-máquina, sempre pronto a funcionar." Estamos portanto perante um impulso historicamente incomensurável da nossa inteligência colectiva, a que chamaríamos, naturalmente, artificial. Ou seja, estamos a falar do "global brain" de que tanta gente tem falado, incluindo Jeremy Rifkin.

No novo paradigma colectivo - que, recorde-se, serve um também novo paradigma social - a capacidade de recombinar a informação nos vários nós da rede é a fonte de inovação no novo sistema, o que tem como consequência lógica que todas as regras (incluindo a protecção de direitos) criadas no sistema comunicativo do industrialismo são limites é progressão da inovação e à implementação do novo paradigma comunicativo e do novo tipo de sociedade. São portanto elementos... conservadores.

Para Castells, a sociedade em rede é um produto - acidental - de três processos separados: a crise do industrialismo (que - outra ideia interessante - teve duas manifestações distintas - o capitalismo e o estatismo); os movimentos dos anos 60 e 70 orientados para a liberdade individual; e os avanços nas tecnologias de informação e comunicação. Essas origens são aliás vistas como explicações para o ethos na nova sociedade em rede.

Outra coisa que Castells nota, com grande acutilância, é que estas tecnologias de comunicação são, necessariamente, globais e que portanto a sociedade em rede que se lhes associa é, também ela, global. E no entanto, os respectivos actores - as pessoas - são temporal e espacialmente localizados, cada um com a sua nacionalidade, cultura, língua, etc. Esta é uma contradição - uma "dissonância social", pode ser? -  interessante que mereceria ser mais estudada. Segundo Castells, a crise do Estado-Nação deriva em parte daqui. Aliás, as pulsões de agrupamento de estados - UE, por exemplo - derivam precisamente da intuição deste fenómeno. Mas isso, levar-nos-ia para outra discussão...

Por fim, Castells também percebe que o tripé Negócios/Política/Comunicação  (termos meus), que sustentava o mundo anterior à internet, está a ruir. Mas não é claro o que é que tomará o seu lugar. Castells usa o conceito de "criação de valor" para explicar como é que os media, as empresas e as instituições políticas actuavam em conjunto para manter um determinado "status quo". Obviamente, esse "acordo" está posto em causa (uma das razões: por causa da falência do Estado-Nação), mas Castells não arrisca uma resposta: a questão do valor "não tem uma resposta definitiva na sociedade em rede".

Gostaria de ter visto esta secção do texto mais clara, uma vez que me interessa muito a questão da atribuição de valor no novo panorama comunicativo. Parece óbvio que terá havido, em todas as fases anteriores de evolução da comunicação social, um conluio entre as empresas, o poder político e os media para "fazer funcionar" as coisas. E também não custa compreender que a atribuição de valor fosse parte desse conluio, mesmo que inconscientemente (ou seja, ninguém pensa - nem o próprio empresário - que as notícias do jornal diário eram pagas para transmitir a ideia de que eram importantes, nada disso). O que me parece - e já escrevi sobre isso - é que tínhamos um modelo de negócio perfeitamente montado para a realidade comunicativa anterior. E não temos nenhum para a nova. Provavelmente, a estruturação do modelo de negócio dos media pré-internet evoluiu em função das tecnologias que criaram esse modelo, tal como outro modelo de negócio virá a evoluir da estruturação do sistema de comunicação pós-internet. O que Castells sugere é que pode acontecer que o sistema capitalista seja impotente para o fazer (ainda vivemos em capitalismo, diz Castells. Ainda...). Isso hoje não parece estar ao virar da esquina, mas, tendo em conta a magnitude das mudanças em curso, é bem possível que até o capitalismo venha a ser afectado por elas. Aliás, nesta dicotomia, ganham novo relevo as tentativas das instituições oficiais, propagadas pelos media, de limitar o alcance das novas tecnologias sob o pretexto de ameaças à privacidade ou aos direitos de autor. Essa é uma guerra (a palavra neste contexto faz todo o sentido) latente.



Duas discordâncias apenas em relação a este texto de Manuel Castells.

Primeira e menos importante: Castells vê a engenharia genética como uma parte da revolução que está em curso nas tecnologias de informação e comunicação. Na verdade, problematizar a engenharia genética neste âmbito é algo que faz todo o sentido. E não há muita gente a fazê-lo. Craig Venter já falou várias vezes do impulso dado pelas tecnologias de informação ao estudo da genética. Mas, ao contrário de Castells, eu não acho que a genética seja parte da revolução em curso; o que acho - eu e certamente alguns autores que eu ainda não descobri... - é que ela "beneficia" desses avanços da tecnologia para dar os seus próprios passos no avanço do conhecimento. As tecnologias de informação são instrumentais - e não centrais - para o avanço da genética.

A genética, como aliás outros ramos do conhecimento, continuará a progredir tanto mais quanto mais "inteligentes" forem todos os processos que lhe são conexos. Ou seja, uma humanidade mais "inteligente" irá progredir em todos os campos e não apenas na genética ou na comunicação. E é neste ponto que também discordo - mais profundamente - de Castells quando ele afirma que "devemos desdenhar a noção de que a tecnologia ou a evolução social levaram inevitavelmente à sociedade em rede." Para Castells não há sentido pré-determinado da história e é por isso que cada sociedade se acha sempre a si mesma o clímax da evolução humana.  Talvez não haja um sentido pré-determinado da história; mas há certamente uma constante da história, que é a progressão da tecnologia (que aliás é um sub-produto da inteligência humana e da sua "acumulação"). Aliás, o próprio Castells afirma: "É verdade que tem havido uma tendência de longo prazo no sentido do desenvolvimento tecnológico que tem aumentado o poder mental da humanidade sobre o seu ambiente." Ora, é isso mesmo que está em causa quando falamos das novas tecnologias de informação. E, ao contrário do sugerido, isso não implica achar que a nossa sociedade é o clímax da evolução. Eu não acho nada disso! Muito pelo contrário: basta pensarmos na própria genética, na estimulação sensorial ao nível do córtex, na percepção sugerida ou nos mundos paralelos para percebermos que há muitas e mais impressionantes mudanças no nosso futuro do que nos nosso presente.

Seja como for, se todos os textos a estudar neste mestrado valerem um décimo do que vale este, já será excelente! Não sei o que vou fazer no futuro dentro do mestrado, mas uma coisa é certa: "Informationalism, Networks, and the Network Society: a Theoretical Blueprint", de Manuel Castells, vai andar sempre comigo!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

1º dia

O primeiro dia é sempre confuso. Apenas duas notas.

Primeiro, a confusão habitual com mails que não chegam, cartões que não estão prontos, sites em baixo e alterações de horários. Coisas típicas de faculdade, portanto. Suponho que haja universidades - daquelas "caras"! - que têm recursos suficientemente abundantes para não terem esses problemas e terem tudo bem organizadinho. Um serviço de excelência, portanto. Mas suponho também que essas são como um hospital com quartos individuais, leitor de DVD, cortinas eléctricas, reóstato de luz, climatização com filtro de pólens, etc. Ou seja, todas as mordomias que não são essenciais. Eu prefiro o essencial...

Na 2ªparte da tarde, com Dinâmicas Sociais da Internet entrámos na matéria propriamente dita, com passagens fugazes por Fernand Braudel, Manuel Castells, Mark Stefik, Roger Silverstone e Barry Wellman. A coisa promete...

Porquê este mestrado?

Fará no próximo ano 20 anos que concluí a minha licenciatura em Comunicação Social no ISCSP, ainda na velhinha Junqueira. Atendendo a que o último ano do curso foi passado já parcialmente a trabalhar e a concluir o trabalho final de curso, fará provavelmente agora 20 anos que deixei a academia. E nunca mais voltei!

Amanhã inicio o Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação do ISCTE-IUL, dirigido pelo Professor Gustavo Cardoso. Já há algum tempo que tinha vontade de voltar à academia. Esta era uma ideia que, durante os últimos anos, volta não volta regressava ao meu espírito. E quando deparei com este mestrado, fiz um pouco de flashback sobre quais eram as minhas expectativas quando saí da Universidade, qual tinha sido o meu percurso desde então e também como perspectivava o futuro. E fiquei com ainda mais vontade voltar!

 Esta foi a forma como tentei explicar as razões de candidatura na carta de motivação que juntei ao processo:

Lisboa, 30 de Maio de 2012 
Esta carta tem por objectivo explicar porque razão gostaria muito de frequentar o Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação do ISCTEIUL no ano lectivo 2012/2013. 
Eu concluí a licenciatura em Comunicação Social, no ISCSP-UTL, no ano lectivo 1992/1993. Na altura, a opção por este curso prendeu-se já com a abrangência do mesmo quanto às diferentes abordagens do fenómeno comunicação no contexto social – jornalismo, relações públicas, marketing e publicidade, etc. Já na altura me interessavam bastante as diferentes formas como a comunicação e a transmissão de informação interagia com as estruturas e as práticas sociais. 
Após a conclusão da licenciatura, iniciei uma carreira no jornalismo especializado, passando por várias publicações da área automóvel, todas editadas pelo grupo Motorpress, que publica variadíssimos títulos de imprensa especializada. Nesse percurso de quase duas décadas, fui jornalista do Guia do Automóvel, chefe de redacção do semanário Autohoje e director da revista Automagazine. 
Paralelamente, desde o início da generalização da internet que olhei o fenómeno como muito interessante do ponto de vista do seu papel na forma como a comunicação e a informação agem socialmente. E desde início que procurei acompanhar a evolução da internet e – tanto quanto possível – adaptar a oferta informativa que profissionalmente produzia, aos novos canais informativos que se abriam. 
Esta ligação às novas tecnologias de comunicação e informação então emergentes levou a que – desde há 2 anos – me tenha sido proposto o cargo de sub-director de multimédia da Motorpress Lisboa, com responsabilidade por desenvolver todos os novos canais e novas tecnologias de comunicação e informação relevantes para os títulos editados pela empresa. O cargo é extremamente aliciante e coloca-me – como será de calcular – no centro do “furacão” que actualmente varre os sector dos media e que, naturalmente, é “alimentado” pelas mudanças que estão a ocorrer nas tecnologias de comunicação e informação. 
Mas sempre achei – e continuo a achar – que a forma como a mudança colossal a que estamos a assistir nas tecnologias de comunicação de informação impacta os media tradicionais é apenas uma pequeníssima parte da forma como impacta a sociedade no seu todo e em múltiplas das suas variantes de funcionamento: da política à família; da pertença social à pertença nacional; do lazer às profissões, etc, etc, etc. 
Por isso, quase 20 anos depois de concluir a licenciatura e iniciar a minha carreira profissional, a vontade de voltar à academia começou a tornar-se cada vez mais presente. Tive oportunidade de assistir recentemente a várias conferências e palestras organizadas pela vossa escola que reforçaram a ideia de que há muito por aprender no contexto de rápida mudança em que as nossas sociedades se encontram. E é isso que me leva a candidatar-me a este mestrado: por um lado, a necessidade de perceber melhor a verdadeira profundidade social dos fenómenos comunicativos num mundo em mudança; e, por outro, o desejo de enriquecimento pessoal e curricular que essa aprendizagem me pode proporcionar. Num terceiro nível gostaria de – na medida do possível – dar um contributo de investigação para a compreensão desses fenómenos. 
Penso que no essencial está explicada a “motivação” para fazer o vosso mestrado, mas estou naturalmente ao dispor para aprofundar e/ou complementar qualquer informação que pretendam. 
Obrigado.
Há certamente cursos de pós-graduação mais adequados a quem queira ascender na escala profissional. Mais técnicos. Mais "how-to" em vez de "why". Mas não é isso que eu quero. Como há mais de 20 anos, quando escolhi o meu curso (recordo-me que tive esta mesmíssima sensação), o que eu quero é aprender! Reflectir sobre as coisas sem constrangimentos e procurar respostas para as perguntas que realmente interessam! Aquelas que me interessam!

Espero que o Mestrado me dê essas respostas e estou confiante que isso vai acontecer. Espero também conseguir "encaixar" o muito trabalho académico que espero ter a partir de agora entre a profissão e a família. Sei que não vai ser fácil. Mas, como se costuma dizer, "quem corre por gosto não cansa" e como nenhum desses "apartados" da minha vida está mais, espero conseguir conciliá-los a todos!