segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O que é que McLuhan acharia dos tablets?

No seu "The Structural Transformation of the Public Sphere", de 1962, Jürgen Habermas estabelece a determinado ponto uma diferença óbvia entre os meios impressos - ele desenvolveu sua a teorização da esfera pública sobretudo a partir dos  jornais - e os meios electrónicos, como a rádio, o filme e a televisão, considerando que nos primeiros o leitor tinha que manter com o media uma certa distância. Distância essa, que, naturalmente, facilitava o seu domínio da respectiva apropriação e portanto a "racionalização" da sua relação com ele. Isto já é em parte interpretação minha, mas parece seguro deduzir que para Habermas os media electrónicos impunham-se ao individuo de uma forma imediata e isenta de interpretação.  E era isso que impedia a realização do ideal de esfera pública no quadro dos modernos mass media (Habermas explicou-o de uma forma "um pouco" mais complexa).

O conceito de media "quente" ou "frio" é dos mais controversos e diferentemente interpretados de Marshal McLuhan. Na verdade, suponho que ainda ninguém percebeu muito bem o que é que ele queria dizer com aquilo. Mas existe aqui um curioso cruzamento entre as duas ideias. De facto, existe uma diferença óbvia entre a escrita e os meios electrónicos no envolvimento que exigem. Se os meios electrónicos são extensões óbvias dos olhos e dos ouvidos, a escrita não o é (ou é - quando muito - uma extensão da visão substancialmente diferente de um televisor, por exemplo). A escrita exige sempre um processo de descodificação (racional) que estabelece uma distância e uma postura interpretativa diferente dos outros. E isso faz toda a diferença em termos da nossa capacidade para racionalizarmos sobre o que nos chega por essa via. Isto - se não foi - devia ser estudado!

Outra coisa: neste contexto dos media como extensões dos sentidos, seria interessante saber o que Marshal McLuhan acharia dos tablets. À primeira vista diríamos que iria considerá-los uma extensão do tacto. Mas - como sabemos -McLuhan não era muito dado a interpretações convencionais. E - de facto -  assim que pensamos um pouco melhor no assunto percebemos que afinal podem ser bem mais do que isso. É impossível que a forma como interagimos com a realidade (sim, realidade!) cada vez mais através de ecrãs tácteis não tenha consequências ao nível da nossa forma e das nossas expectativas de apropriação do mundo. Isto - se não foi - também devia ser estudado!

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