quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Afinal para que servem as redes sociais online?


No segundo ano de mestrado, uma das poucas cadeiras envolve obrigatoriamente uma técnica de pesquisa. Supõe-se, como preparação para a construção científica da componente empírica da dissertação de mestrado. De todas as unidades curriculares disponíveis, esta - Análise de Redes em Ciências Sociais - foi a única que realmente despertou a minha atenção. Basicamente, porque era a única das cadeiras disponíveis que podia efectivamente ser útil para a construção de minha dissertação.
Para a dissertação estou a projectar, como já referi antes, uma parte de análise do valor económico da informação e outra da análise do valor social da informação. As conclusões resultarão do cruzamento entre as duas análises. Já sei muito bem como vou fazer a primeira parte, mas tenho ainda muitas dúvidas sobre como fazer a segunda. E devo dizer que não se dissiparam por completo.
Na cadeira de Redes Sociais Online fiz uma análise teórica do tema e foquei-me muito no conceito de Capital Social. A ideia, nesta UC de Análise de Redes em Ciências Sociais, era tentar operacionalizar a questão e fazer uma primeira abordagem - exploratória - às formas possíveis de analisar empiricamente o valor social da informação. E a conclusão principal é que isso deve ser pelo menos tão difícil quanto parecia à primeira vista!
Aprendemos as bases do Unicet e do Gephi e eu explorei por minha conta outras alternativas, como o NodeXL, o Netvizz, Datasift, etc. Acabei por fazer a análise com o NodeXL porque era o único que permite fazer o download directo de uma rede de Facebook (perfil, página ou grupo). Mas deu para perceber duas coisas: 1ª o volume de informação é tal que exige - para um estudo sério - exige capacidade de computação especial; e 2º as limitações de extracção de dados são um obstáculo difícil de transpor (mais uma vez, só com programação específica). Isto deixou-me um pouco apreensivo em relação ao desenvolvimento desta componente da minha dissertação. Tenho duas alternativas: ou encontro uma forma engenhosa de conseguir reproduzir empiricamente os percursos informativos que me interessa analisar; ou então tenho que me restringir aos estudos empíricos (bem interessantes, por sinal) que descobri nesta pesquisa e que na realidade não pude usar com a profundidade que merecem. Provavelmente vou apontar para esta segunda hipótese.
No essencial, completei neste trabalho as conclusões que já tinha explorado no trabalho de redes sociais. Basicamente, o que a massiva abundância de conexões na era das redes sociais online proporciona é uma disseminação massiva da informação, de uma magnitude inédita na história da civilização. E isso - considerando que do ponto de vista social mais informação é sempre melhor que menos informação - significa que a abundância de informação incrementa o seu valor social. Do ponto de vista teórico (e até tendo em conta os trabalho experimentais citados aqui) isso está bastante claro é é fácil de sustentar. Mas demonstrá-lo empiricamente é uma equação... complicada!
O trabalho integral está publicado na minha conta do Academia.edu. O resumo diz o seguinte:
"A análise formal de redes sociais é um instrumento poderoso para a observação da forma como se organizam os actores sociais e como decorrem os processos sociais que os envolvem. Com a massificação das tecnologias de informação e comunicação digitais e da internet registaram-se mudanças profundas e massivas na forma de distribuir informação na sociedade em rede. Neste trabalho iremos analisar essas transformações à luz da análise de redes sociais. Numa primeira fase abordaremos o conceito de rede social enquanto metáfora de carácter sociológico e as métricas mais importantes para o estudo em causa. Depois analisaremos as transformações teóricas que a sociedade em rede conectada por tecnologias digitais operou na distribuição de informação. E, numa terceira parte, olharemos em detalhe para os processos de distribuição de informação numa página de Facebook através de dois instrumentos de análise empíricos. Concluiremos analisando de que forma as observações efectuadas confirmam as transformações verificadas na distribuição de informação na sociedade em de que forma isso pode ter impacto na valorização social da informação."

Algures na conclusão está o seguinte:
 "A conclusão que tiramos, em linha com o que tinha sido inicialmente colocado como hipótese, é que as redes sociais online como o Facebook contribuem para um padrão de distribuição de informação fundamentalmente diferente daquele que existia anteriormente às tecnologias digitais. A bidireccionalidade das redes digitais e a facilidade de emitir, partilhar e disseminar informação levam a que a informação seja muito mais abundante nas redes sociais online mediadas por computadores do que alguma vez foi nas redes sociais não mediadas anteriores à era digital. O resultado, deste ponto de vista, é a super-abundância de informação na rede e forma fácil e exponencial como a informação pode circular e disseminar-se na rede.
O efeito prático, argumentámos, é que isso incremenda grandemente o capital social dos indivíduos, uma vez que lhes facilita a mobilização de recursos nos vários pontos de rede com os quais estão conectados. Ora, se entendermos a informação como um recurso social, então as redes sociais online contribuem para a abundância desse recurso. E, por outro lado, se considerarmos que a informação é um recurso que, do ponto de vista social, só adquire valor quando usado, então mais abundância significa maior valor, uma vez que mais agentes sociais poderão usar a informação se ela for abundante. É por isso que as redes sociais contribuem para o incremento do capital social de cada indivíduo e da comunidade como um todo. Donde decorre a conclusão de que a abundância de informação incrementa o seu valor social."
Claro que esta conclusão é um pouco abrupta. Não quer dizer que esteja errada. Não creio que esteja. Mas a sua sustentação não é ainda suficientemente sólida. Daí que o "passo" pareça demasiado "rápido" nesta parte final. Mas este é ainda um "work in progress". Esta é apenas mais uma fase.



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