Quando vi a mais recente campanha da Zon, criada sobre o conceito "Timewarp - Viajo no tempo", lembrei-me logo da noção de "timeless time" de Manuel Castells.
Aliás, há quase um mês tinha chamado a atenção para a forma como a campanha do Meo evocava uma das acepções daquilo que se pode entender como convergência dos media segundo Henry Jenkins.
Que as duas maiores "transportadoras de sinal" nacionais toquem em dois dos conceitos mais fundamentais da nova paisagem comunicativa, isso é em si mesmo uma coincidência interessante.
Mas na realidade pode significar bem mais do que uma mera coincidência. Porque - estou eu aqui a pensar - o que isto significa, basicamente, é que a Zon acabou de descobrir - e está a tentar monetizar - um dos traços constitutivos da arquitectura da comunicação em rede: a bidireccionalidade. E a questão nem sequer é se vai (vão...) a tempo. A questão é se isso faz sentido. Porque o facto de os canais de comunicação na internet funcionarem nos dois sentidos é tão natural para a rede como respirar é para o ser humano. Por isso, de certa forma, o que a Zon e a Meo estão a fazer é praticamente o mesmo que os jornais fizeram quando criaram websites para colocar as notícias online; que é fazer mais ou menos a mesma coisa para responder a uma realidade que é radicalmente diferente. Estamos a perceber hoje, nos jornais, que não sabemos o que é que vai ser o futuro da comunicação, mas sabemos que não vai ser isso.
Com as "transportadoras de sinal" pode estar a passar-se algo semelhante. Procuram estar onde "está o negócio" na esperança - se calhar vã - de que exista de todo um negócio no futuro da comunicação. Pode estar a começar acontecer-lhes agora o mesmo que aconteceu aos jornais e revistas quando lançaram os seus primeiros websites. Querem estar ali porque aqui já não se está bem. O que não quer dizer que ali se esteja melhor!
Afinal, o que é que fez o Skype às operadoras telefónicas tradicionais? O que é que o Facetime fez ao Skype? Ou o Facebook ao Facetime? Ou o Google+ ao Facebook? Podíamos ficar aqui eternamente a argumentar futilmente sobre quem ganhou a quem, sem repararmos no facto essencial de que todos perderam. A abundância de informação reduz o seu valor assim como a multiplicação de canais reduz o potencial de rentabilidade de cada um. E não há nada mais multiplicador do que tornar bidireccional aquilo que antes era unidireccional.
Obviamente, tudo o que está para cima é especulação e futurologia. Na verdade é algo que nem devia ser "permitido" num blogue "académico". Mas serve para ilustrar que é isso precisamente que pretendo estudar cientificamente neste mestrado. Não o modelo de negócio das operadoras de internet - ou pelo menos não apenas - mas a própria ideia de um modelo de negócio como forma viável ou desejável de transmitir socialmente a informação na era da internet. Esse tem sido o traço comum a tudo o que tenho feito neste mestrado e irá continuar a sê-lo no futuro.
Hão-de emergir, se não certezas, pelo menos convicções cientificamente fundadas. Uma das que já vislumbro - que que já tive oportunidade de tratar num trabalho ou outro - tem a ver com a escala global em que operam as Google e Facebook deste mundo. Ao contrário do que normalmente se pensa - argumento eu... - não é que elas sejam ricas porque são globais. É exactamente o contrário: elas NÃO SÃO pobres porque são globais. E é porque as vemos globalmente que perdemos de vista que o seu "modelo de negócio" está na realidade tão deteriorado como os outros. Dito de outra forma, quando valorizamos em bolsa uma Google ou Facebook pelo potencial de negócio que resulta do facto de ela operar globalmente (tem não-sei-quantos milhões de utilizadores...), estamos a valorizá-la com "instrumentos de medida" concebidos para o nosso mundo; não para o próximo! Estamos a valorizá-la em função do potencial que achamos que ela pode gerar devido ao número de clientes e não em função do que ela efectivamente gera por cada cliente que serve. Ou seja, é intrínseco à forma como a informação se torna abundante e os canais se multiplicam socialmente que o valor unitário da informação necessariamente se reduz. E não há nada que nem a Google nem o Facebook possam fazer quanto a isso. A não ser, talvez, esconder a evidência com a exuberância dos seus "números". Um dia espero poder estudá-lo e prová-lo!
Blogue de acompanhamento ao Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação do ISCTE-IUL, anos lectivos 2012-2013. Reflexões sobre os temas tratados. Ligações relevantes e informações complementares.
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quinta-feira, 14 de março de 2013
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
Google, Facebook, Twitter e YouTube: os novos media da sociedade em rede
Este foi para mim o trabalho mais importante deste semestre. Por uma razão: de todos os que fiz é aquele que está mais próximo da espinha dorsal do que pretendo estudar neste mestrado.
Já há muito tempo que tenho a opinião de que, quando os media tradicionais olham para a internet fazem-no com uma perspectiva enviesada que tende a tomar os outros media tradicionais nas mesmas circunstâncias como os seus concorrentes. Adoptam essa perspectiva no pressuposto errado de que são produtores de informação quando na realidade são apenas seus distribuidores. Do ponto de vista da função social dos media, os seus concorrentes são na realidade as google, facebook, twitter e youtubes deste mundo. Na maior parte dos casos os media tradicionais até falam com orgulho - ironia - das suas páginas de Facebook, do seu Twitter, dos seus canais do YouTube, não percebendo que na realidade o que estão a fazer é a alimentar os seus coveiros! Aliás aquela ideia recente - "saiam da internet!" pode até ser menos disparatada do que parece.
Outros media tradicionais confrontam as google deste mundo, mas, mesmo isso, fazem-no numa base errada: olhando para elas como uma espécie de piratas e não como concorrentes. Na realidade, em muitos anos a acompanhar estas matérias, acho que nunca vi ninguém ligado aos media tradicionais a olhar para estes "novos media" como aquilo que eles realmente são: os seus concorrentes nativos do novo mundo digital. Este trabalho é sobre isso. E penso que faz o essencial para o explicar.
Mas é também sobre duas outras ideias que na verdade se limita a aflorar e que requerem óbvia continuação no futuro: a redução do valor unitário da informação e as consequências económicas, sociais e até políticas que isso poderá ter. Isto sim, é o que me interessa!
Já há muito tempo que tenho a opinião de que, quando os media tradicionais olham para a internet fazem-no com uma perspectiva enviesada que tende a tomar os outros media tradicionais nas mesmas circunstâncias como os seus concorrentes. Adoptam essa perspectiva no pressuposto errado de que são produtores de informação quando na realidade são apenas seus distribuidores. Do ponto de vista da função social dos media, os seus concorrentes são na realidade as google, facebook, twitter e youtubes deste mundo. Na maior parte dos casos os media tradicionais até falam com orgulho - ironia - das suas páginas de Facebook, do seu Twitter, dos seus canais do YouTube, não percebendo que na realidade o que estão a fazer é a alimentar os seus coveiros! Aliás aquela ideia recente - "saiam da internet!" pode até ser menos disparatada do que parece.
Outros media tradicionais confrontam as google deste mundo, mas, mesmo isso, fazem-no numa base errada: olhando para elas como uma espécie de piratas e não como concorrentes. Na realidade, em muitos anos a acompanhar estas matérias, acho que nunca vi ninguém ligado aos media tradicionais a olhar para estes "novos media" como aquilo que eles realmente são: os seus concorrentes nativos do novo mundo digital. Este trabalho é sobre isso. E penso que faz o essencial para o explicar.
Mas é também sobre duas outras ideias que na verdade se limita a aflorar e que requerem óbvia continuação no futuro: a redução do valor unitário da informação e as consequências económicas, sociais e até políticas que isso poderá ter. Isto sim, é o que me interessa!
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
The Power of Google!
"MasterPlan - About the Power of Google" é um dos muitos documentários que podemos encontrar no YouTube (ironia...) sobre a ameaça que constitui a quantidade de informação abertamente ou sub-repticiamente recolhida pela Google (e outras empresas semelhantes) no quadro da nova sociedade em rede em que vivemos.
Para a cadeira de Participação Política e Poder na Era Digital, esse era um tema que desde muito cedo pensava abordar, embora não soubesse bem como. Quando falámos em aula sobre a forma como o Poder dos media se manifesta em sociedade, decidi que era por aí que iria. Depois, tive a sorte de me calhar em sorte um texto de Dan Schiller - "Power Under Pressure" - para uma apresentação em aula.
O resultado foi uma espécie de 2 em 1: uma apresentação em aula feita em grupo com o Tiago e um trabalho sobre a forma como a alteração da paisagem mediática afecta as relações de Poder dos media em sociedade.
Para a apresentação em aula escolhemos o Prezi e fizemos isto que está aqui:
Para o trabalho propriamente dito juntei Manuel Castells (o excelente "Communication Power"), Yochai Benkler (que já disse aqui que é um génio!) e o já referido Dan Schiller. Benkler é um optimista, Schiller é um pessimista e Castells é... um realista. No sentido em que o potencial "revolucionário" das mudanças é evidente, mas a forma como se materializarão irá depender dos factores políticos, económicos e sociais que as revestem.
Neste trabalho argumento que "com a deterioração do modelo de negócio dos media tradicionais e a expansão dos modelos de negócio dos “novos media” - como a Google, o Facebook e o Twitter, por exemplo - assistimos a uma recomposição do poder económico à escala global que provoca alterações na relação de forças entre os vários intervenientes na cadeia informativa e também na articulação entre as diversas fontes de poder." E é isto - precisamente isto - que é preciso perceber para não embarcarmos em utopias ou em teorias da conspiração como a do video citado no início. A realidade é muitos mais complexa do que qualquer dessas duas coisas. Para sorte de quem a pretende estudar!
Para a cadeira de Participação Política e Poder na Era Digital, esse era um tema que desde muito cedo pensava abordar, embora não soubesse bem como. Quando falámos em aula sobre a forma como o Poder dos media se manifesta em sociedade, decidi que era por aí que iria. Depois, tive a sorte de me calhar em sorte um texto de Dan Schiller - "Power Under Pressure" - para uma apresentação em aula.
O resultado foi uma espécie de 2 em 1: uma apresentação em aula feita em grupo com o Tiago e um trabalho sobre a forma como a alteração da paisagem mediática afecta as relações de Poder dos media em sociedade.
Para a apresentação em aula escolhemos o Prezi e fizemos isto que está aqui:
Para o trabalho propriamente dito juntei Manuel Castells (o excelente "Communication Power"), Yochai Benkler (que já disse aqui que é um génio!) e o já referido Dan Schiller. Benkler é um optimista, Schiller é um pessimista e Castells é... um realista. No sentido em que o potencial "revolucionário" das mudanças é evidente, mas a forma como se materializarão irá depender dos factores políticos, económicos e sociais que as revestem.
Neste trabalho argumento que "com a deterioração do modelo de negócio dos media tradicionais e a expansão dos modelos de negócio dos “novos media” - como a Google, o Facebook e o Twitter, por exemplo - assistimos a uma recomposição do poder económico à escala global que provoca alterações na relação de forças entre os vários intervenientes na cadeia informativa e também na articulação entre as diversas fontes de poder." E é isto - precisamente isto - que é preciso perceber para não embarcarmos em utopias ou em teorias da conspiração como a do video citado no início. A realidade é muitos mais complexa do que qualquer dessas duas coisas. Para sorte de quem a pretende estudar!
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Google, Facebook e Twitter: os novos media
Lembrei-me desta tese quando estava a preparar o draft inicial para um trabalho para uma das cadeiras do mestrado. O tema tem a ver com a desregulação do negócio dos media e isto, naturalmente, está relacionado. Provavelmente, ainda vai fazer parte da tese:
"Mas há outro aspecto – completamente separado deste – em que este alvoroço em torno da Google suscita reflexões interessantes. Que é este: para mim é sempre muito curioso ver a agressividade com que estas empresas – Google, Facebook, Twitter – procuram manter ou conquistar territórios negociais. Como se não soubessem muito bem o que é que na realidade fazem ou estarão a fazer daqui a 5 anos. E na verdade é isso mesmo que acontece. A Google é utilizada universalmente, o Facebook tem mais de 800 milhões de utilizadores e o Twitter está presente em todos os continentes e em todas as latitudes. No entanto, nenhuma as 3 empresas parece ter um modelo de negócio seguro (na verdade, o Twitter ainda está à procura dele). O Facebook, por exemplo, só hoje entrou em bolsa. E todas as valorizações incrementais que ao longo dos últimos anos lhe foram sendo atribuídas não eram mais afinal do que “expectativas de valor”, tal como, de certa forma, ainda são hoje, mesmo com a cotação em bolsa. Ou seja: percebe-se que qualquer destas empresas tem um potencial enorme, mas percebe-se pior qual é realmente o seu negócio do dia-a-dia, por comparação com essa expectativa. Mesmo no caso da Google. Claro que a Google faz milhões em publicidade, mas faz esses milhões com biliões de utilizadores e triliões de utilizações. Como sabe bem quem explora um media tradicional e o respectivo website, ganha-se mais dinheiro por cada “eyeball” no papel, por exemplo, do que com 100 na web. O que isso significa é que só a escala salva a Google (e o Facebook, que tem o mesmo modelo de negócio). Se não fosse a escala enorme em que estas empresas se movimentam – Google, Facebook, Twitter, etc – qualquer delas seria um insucesso económico. Porque é que não há concorrentes (reais) da Google ou do Facebook ou do Twitter? Já pensaram? É por isso mesmo: porque concorrentes mais pequenos não têm escala para serem rentáveis! Para termos uma noção da situação basta imaginarmos o que seria uma BP ou um Wal-Mart com mais de 800 milhões de clientes! É esta a escala a que operam estes gigantes com pés de barro!
Por isso é um erro dizer que estas empresas estão a mudar o modelo de negócio. Wrong! Elas estão a “pulverizar” o modelo de negócio! Isso sim! Como aliás os media tradicionais sabem muito bem. É óbvio que elas estão a “desregular” algo, mas não é claro que estejam a “regular” o que quer que seja! Provavelmente ainda iremos descobrir que no futuro os negócios estarão organizados de uma maneira muito diferente. Ou até que não haverá negócios, apenas serviços sem fins lucrativos! Não sabemos como será o futuro. Mas sabemos que provavelmente não é isto que hoje temos: um gigante em cada sector, com uma escala enormíssima e uma rentabilidade minúscula.
O que parece – hoje – é que estes gigantes – Google, Facebook, Twitter — são mais plataformas do que empresas; são mais um serviço público do que um negócio. E é por isso – só por isso! – que esperamos que elas estejam do lado do Bem e não do lado do Mal! E é por isso que tantas vezes nos incomodamos e revoltamos com os seus “termos de serviço” e as suas “políticas de privacidade”. Alguém alguma vez procurou saber quais são os Termos de Serviço e a Política de Privacidade do Pingo Doce?
Isto está mesmo a mudar. Muito e depressa. Não sabemos é para onde!"
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