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quinta-feira, 14 de março de 2013

Intemporalidade, convergência e revolução

Quando vi a mais recente campanha da Zon, criada sobre o conceito "Timewarp - Viajo no tempo", lembrei-me logo da noção de "timeless time" de Manuel Castells.
Aliás, há quase um mês tinha chamado a atenção para a forma como a campanha do Meo evocava uma das acepções daquilo que se pode entender como convergência dos media segundo Henry Jenkins.
Que as duas maiores "transportadoras de sinal" nacionais toquem em dois dos conceitos mais fundamentais da nova paisagem comunicativa, isso é em si mesmo uma coincidência interessante.
Mas na realidade pode significar bem mais do que uma mera coincidência. Porque - estou eu aqui a pensar - o que isto significa, basicamente, é que a Zon acabou de descobrir - e está a tentar monetizar - um dos traços constitutivos da arquitectura da comunicação em rede: a bidireccionalidade. E a questão nem sequer é se vai (vão...) a tempo. A questão é se isso faz sentido. Porque o facto de os canais de comunicação na internet funcionarem nos dois sentidos é tão natural para a rede como respirar é para o ser humano. Por isso, de certa forma, o que a Zon e a Meo estão a fazer é praticamente o mesmo que os jornais fizeram quando criaram websites para colocar as notícias online; que é fazer mais ou menos a mesma coisa para responder a uma realidade que é radicalmente diferente. Estamos a perceber hoje, nos jornais, que não sabemos o que é que vai ser o futuro da comunicação, mas sabemos que não vai ser isso.
Com as "transportadoras de sinal" pode estar a passar-se algo semelhante. Procuram estar onde "está o negócio" na esperança - se calhar vã - de que exista de todo um negócio no futuro da comunicação. Pode estar a começar acontecer-lhes agora o mesmo que aconteceu aos jornais e revistas quando lançaram os seus primeiros websites. Querem estar ali porque aqui já não se está bem. O que não quer dizer que ali se esteja melhor!
Afinal, o que é que fez o Skype às operadoras telefónicas tradicionais? O que é que o Facetime fez ao Skype? Ou o Facebook ao Facetime? Ou o Google+ ao Facebook? Podíamos ficar aqui eternamente a argumentar futilmente sobre quem ganhou a quem, sem repararmos no facto essencial de que todos perderam. A abundância de informação reduz o seu valor assim como a multiplicação de canais reduz o potencial de rentabilidade de cada um. E não há nada mais multiplicador do que tornar bidireccional aquilo que antes era unidireccional.
Obviamente, tudo o que está para cima é especulação e futurologia. Na verdade é algo que nem devia ser "permitido" num blogue "académico". Mas serve para ilustrar que é isso precisamente que pretendo estudar cientificamente neste mestrado. Não o modelo de negócio das operadoras de internet - ou pelo menos não apenas - mas a própria ideia de um modelo de negócio como forma viável ou desejável de transmitir socialmente a informação na era da internet. Esse tem sido o traço comum a tudo o que tenho feito neste mestrado e irá continuar a sê-lo no futuro.
Hão-de emergir, se não certezas, pelo menos convicções cientificamente fundadas. Uma das que já vislumbro - que que já tive oportunidade de tratar num trabalho ou outro - tem a ver com a escala global em que operam as Google e Facebook deste mundo. Ao contrário do que normalmente se pensa - argumento eu... - não é que elas sejam ricas porque são globais. É exactamente o contrário: elas NÃO SÃO pobres porque são globais. E é porque as vemos globalmente que perdemos de vista que o seu "modelo de negócio" está na realidade tão deteriorado como os outros. Dito de outra forma, quando valorizamos em bolsa uma Google ou Facebook pelo potencial de negócio que resulta do facto de ela operar globalmente (tem não-sei-quantos milhões de utilizadores...), estamos a valorizá-la com "instrumentos de medida" concebidos para o nosso mundo; não para o próximo! Estamos a valorizá-la em função do potencial que achamos que ela pode gerar devido ao número de clientes e não em função do que ela efectivamente gera por cada cliente que serve. Ou seja, é intrínseco à forma como a informação se torna abundante e os canais se multiplicam socialmente que o valor unitário da informação necessariamente se reduz. E não há nada que nem a Google nem o Facebook possam fazer quanto a isso. A não ser, talvez, esconder a evidência com a exuberância dos seus "números". Um dia espero poder estudá-lo e prová-lo!

domingo, 17 de fevereiro de 2013

A convergência da informação

A convergência da informação é uma tese argumentada, entre outros, por Henry Jenkins. Basicamente diz que os modos de expressão cultural que hoje conhecemos e que viveram durante muitos anos associados a diferentes "media" tendem a convergir para a internet: a televisão, a rádio, os "jornais", etc.
Isso obviamente levanta muitas questões interessantes em relação aos modos da narrativa. Transformações que estamos apenas a começar a vislumbrar e que estamos apenas ainda a "arranhar" em termos de investigação: os blogues e as redes sociais face aos media tradicionais; o YouTube face à televisão; o Spotify face à rádio, etc. Essas transformações nos modos de exercer a narrativa merecem estudo e gostava de poder abordar esse assunto algures neste mestrado, o que ainda não aconteceu.
Mas o aspecto mais interessante da tese da convergência está na forma como ela conjuga o determinismo e o voluntarismo. Determinismo tecnológico e voluntarismo social, para ser mais preciso.
Como Henry Jenkins vê bem, a convergência tanto pode ser um processo de cima para baixo, liderado pelas empresas, como pode ser um processo de baixo para cima, liderado pelos consumidores. Dan Schiller vê-a exclusivamente na primeira perspectiva; Yochai Benkler apenas na segunda. Será a "continuação do capitalismo por outras formas" se a primeira prevalecer; será uma revolução de consequências imprevisíveis se prevalecer a segunda. A escolha será social e não individual. Por isso é que os movimentos tipo "occupy" são tão interessantes: mesmo transcendendo largamente esta questão específica, eles representam a percepção, às vezes ainda difusa, de que há um património colectivo que é preciso reclamar, mas que não é fácil de delimitar e precisar. Se essa reclamação não for bem sucedida, a convergência dos media na internet tenderá a realizar-se ao serviço de interesses particulares. Mas realizar-se-á. Porque a convergência, para além de uma escolha social, é também uma determinação técnica.
No quadro da apropriação empresarial da convergência dos media na internet fala-se muitas vezes dos media tradicionais (os grande estúdios, as mega-editoras, a Walt Disney, os grande conglomerados de media), fala-se algumas vezes dos gigantes tipo Google, Facebook, Twitter, etc (que eu tentei apresentar como "os novos media" num trabalho que ainda não posso divulgar), mas esquece-se quase sempre estes actores, que "passam por entre os pingos da chuva" como se não fosse nada com eles: os fornecedores de acesso.
O que era a Meo (ou a Zon) há 25 anos atrás? O que era a At&T ou a Comcast há 35 anos atrás? Eu ainda me lembro de como aquilo que eram os TLP-Telefones de Lisboa e Porto se transformaram nos dois gigantes que são hoje a Meo e a Zon. Qual será a magnitude de acumulação de riqueza que explica esta transformação? E de onde vem esse dinheiro? Estas perguntas impõem-se sempre que vejo os anúncios da mais recente campanha da Meo, que tem precisamente a convergência dos media como eixo central. A convergência de media pode transformar-se em apenas isto: uma nova proposta comercial ao serviço afinal, não dos media ou dos fornecedores de informação, mas exclusivamente ao serviço dos donos das antenas e dos cabos em que a informação circula.
Eu já argumentei neste mestrado que a Google, o Facebook, o Twitter, o YouTube, etc, são na realidade os "novos media" (embora não com a documentação que gostaria). Falta-me analisar os fornecedores de acesso e a sua emergência como players principais no novo mundo da comunicação. Espero poder fazê-lo algures no decurso deste mestrado.