A convergência da informação é uma tese argumentada, entre outros, por Henry Jenkins. Basicamente diz que os modos de expressão cultural que hoje conhecemos e que viveram durante muitos anos associados a diferentes "media" tendem a convergir para a internet: a televisão, a rádio, os "jornais", etc.
Isso obviamente levanta muitas questões interessantes em relação aos modos da narrativa. Transformações que estamos apenas a começar a vislumbrar e que estamos apenas ainda a "arranhar" em termos de investigação: os blogues e as redes sociais face aos media tradicionais; o YouTube face à televisão; o Spotify face à rádio, etc. Essas transformações nos modos de exercer a narrativa merecem estudo e gostava de poder abordar esse assunto algures neste mestrado, o que ainda não aconteceu.
Mas o aspecto mais interessante da tese da convergência está na forma como ela conjuga o determinismo e o voluntarismo. Determinismo tecnológico e voluntarismo social, para ser mais preciso.
Como Henry Jenkins vê bem, a convergência tanto pode ser um processo de cima para baixo, liderado pelas empresas, como pode ser um processo de baixo para cima, liderado pelos consumidores. Dan Schiller vê-a exclusivamente na primeira perspectiva; Yochai Benkler apenas na segunda. Será a "continuação do capitalismo por outras formas" se a primeira prevalecer; será uma revolução de consequências imprevisíveis se prevalecer a segunda. A escolha será social e não individual. Por isso é que os movimentos tipo "occupy" são tão interessantes: mesmo transcendendo largamente esta questão específica, eles representam a percepção, às vezes ainda difusa, de que há um património colectivo que é preciso reclamar, mas que não é fácil de delimitar e precisar. Se essa reclamação não for bem sucedida, a convergência dos media na internet tenderá a realizar-se ao serviço de interesses particulares. Mas realizar-se-á. Porque a convergência, para além de uma escolha social, é também uma determinação técnica.
No quadro da apropriação empresarial da convergência dos media na internet fala-se muitas vezes dos media tradicionais (os grande estúdios, as mega-editoras, a Walt Disney, os grande conglomerados de media), fala-se algumas vezes dos gigantes tipo Google, Facebook, Twitter, etc (que eu tentei apresentar como "os novos media" num trabalho que ainda não posso divulgar), mas esquece-se quase sempre estes actores, que "passam por entre os pingos da chuva" como se não fosse nada com eles: os fornecedores de acesso.
O que era a Meo (ou a Zon) há 25 anos atrás? O que era a At&T ou a Comcast há 35 anos atrás? Eu ainda me lembro de como aquilo que eram os TLP-Telefones de Lisboa e Porto se transformaram nos dois gigantes que são hoje a Meo e a Zon. Qual será a magnitude de acumulação de riqueza que explica esta transformação? E de onde vem esse dinheiro? Estas perguntas impõem-se sempre que vejo os anúncios da mais recente campanha da Meo, que tem precisamente a convergência dos media como eixo central. A convergência de media pode transformar-se em apenas isto: uma nova proposta comercial ao serviço afinal, não dos media ou dos fornecedores de informação, mas exclusivamente ao serviço dos donos das antenas e dos cabos em que a informação circula.
Eu já argumentei neste mestrado que a Google, o Facebook, o Twitter, o YouTube, etc, são na realidade os "novos media" (embora não com a documentação que gostaria). Falta-me analisar os fornecedores de acesso e a sua emergência como players principais no novo mundo da comunicação. Espero poder fazê-lo algures no decurso deste mestrado.
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