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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A inscrição da internet em McLuhan, Baudrillard e Habermas

A ideia para este trabalho para a cadeira de Teorias em Média e Comunicação surgiu durante uma aula em que falávamos de Habermas e da "esfera pública". Atendendo a que Habermas ainda é vivo, fiquei curioso de saber o que acharia ele da actual internet, uma vez que me parecia óbvio que dificilmente se poderia "inventar" algo que fosse tão obviamente a materialização - sublimada até - da referida "esfera pública".
Por outro lado, como não queria fazer o trabalho só sobre um autor, decidi juntar Baudrillard e McLuhan dentro do mesmo contexto: tentar perceber de que forma é que a internet veio desconstruir ou confirmar - se é que veio - as teorias de cada um deles sobre os mass media. Para mim, era também uma forma de conhecer melhor os 3 autores. Conhecia razoavelmente as teses principais de cada um, mas apenas tinha lido directamente Baudrillar, há muitos, muitos anos (aliás foi curioso recuperar os velhos e poeirentos "Para uma crítica da economia política do signo" e "A sociedade de consumo" para os redescobrir cheios de notas e apontamentos à margem sobre teorias da comunicação feitas por volta de 88/89...).
Percebi rapidamente que cada um destes autores dava um livro! Quanto mais um pequeno "paper"! Houve uma altura em que cheguei a pensar em fechar a coisa em McLuhan (foi o primeiro) e esquecer os outros. Mas, por outro lado, os outros - sobretudo Habermas - eram aqueles que tinha mais curiosidade de investigar. No fim, lá consegui levar a coisa até ao fim, com quase 20 páginas, que depois reduzi para pouco mais de 10 com alguns cortes e "engenharia de word".
Mas, como se pode ver pela bibliografia, este trabalho deu mesmo MUITO trabalho! Serviu-me de lição para os restantes! Foi uma espécie de tratamento de choque. Percebi que, se demorasse tanto a fazer os outros 4 trabalhos como tinha demorado a fazer este, nunca os iria conseguir entregar a todos. E por isso tive a preocupação de delimitar melhor os temas a partir daí.
Sobre o conteúdo do trabalho propriamente dito, só o "futurista" McLuhan é que verdadeiramente "entende" o que é a internet. Mesmo nunca a tendo conhecido! Baudrillard também tem algumas teses interessantes (as potenciais leituras "baudrillardianas" dos mundos virtuais, por exemplo, são intelectualmente muito estimulantes e gostaria de poder voltar a elas). Quanto a Habermas, o seu conservadorismo é realmente uma desilusão. A sua leitura da deterioração da "esfera pública" no tempo dos mass media é muito acertada, mas a sua recusa de aceitar o potencial democratizador da internet é frustrante.
Gostei de fazer este trabalho e sinto que aprendi bastante dos "basics", que era exactamente o que pretendia!


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Jean Baudrillard e a inscrição "ideológica" da objectividade jornalística na sociedade

Ontem, na aula de Teorias em Média e Comunicação, ouvi falar outra vez de Harold Lasswell, com a teoria hipodérmica, e de Paul Lazarsfeld com o seu Two-Step Flow of Comunication. Nomes e conceitos que não ouvia - e não utilizei - desde que fechei os livros há 20 anos. Fizeram-me falta? Nem por isso. Foram-me úteis? Certamente!
É muito curioso que, em 20 anos de jornalismo, nunca, que me lembre, tenha utilizado nenhum desses autores - ou as suas teses - em qualquer discussão ou decisão editorial. E no entanto a sensação que tenho é que eles estiveram lá sempre presentes, como fantasmas, por detrás do trabalho jornalístico de todos os dias.
Lembrei-me então das críticas que, enquanto jovens, fazíamos, quase todos, ao carácter muito teórico e pouco "profissionalizante" do nosso curso do ISCSP. Já na altura assim me parecia e agora confirmo: não há nada mais útil do que uma boa teoria!

Hoje, na aula de Práticas Discursivas do professor José Rebelo, voltei a recordar um nome longamente esquecido - Jean Baudrillard. Noutra aula já tínhamos falado também de Gilles Lipovetsky - dois autores que me lembro de ter lido há muitos muitos anos com ainda maior interesse.

Falámos de Jean Baudrillard a propósito desta tese fantástica: Os mass media procuram o maior denominador comum entre todos os públicos, procuram os temas do interesse do maior número possível de potenciais leitores/espectadores/ouvintes, procurando não hostilizar nenhuns. É neste contexto que se desenvolve o discurso da objectividade que vem até aos nossos dias. Ou seja - interpretação minha - a crença na objectividade jornalística (e a sua procura, pelo menos) é o resultado de um longo processo de inscrição ideológica do jornalismo na sociedade. Ou seja, o paradigma de comunicação vigente numa determinada época tende a inscrever-se ideologicamente na sociedade em que se insere e à qual serve. Hoje, vivemos provavelmente os dias finais de um paradigma de comunicação e da correspondente inscrição ideológica na sociedade. Já se discute o conceito de objectividade (ele inclusivamente já saiu do código deontológico), mas ainda se toma a objectividade como um valor de referência (aliás, depois da aula isso foi naturalmente tema de discussão acesa!)
A minha impressão é que, à revolução em curso no paradigma de comunicação, corresponderá uma "pulverizacão" completa do conceito de objectividade informativa. Com a profusão de blogues, redes sociais, plataformas de imagem e video, em que cada indivíduo pode ser autor/emissor, a subjectividade predomina sobre a objectividade. Isso já é notório em muitos aspectos e tenderá a sê-lo cada vez mais. Obviamente - como se comentava na discussão posterior - assim que largamos a objectividade como referencial (mesmo que o substituamos por algo como "honestidade"), abrimos caminho ao relativismo. E isso, hoje, a nós, ainda filhos da inscrição ideológica referida acima, suscita-nos muitas dúvidas. 
Mas, se calhar, também é para isso que serve um mestrado... Não para nos dar certezas, mas para nos levantar dúvidas!