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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Megaupload segundo Habermas



Esta entrevista de Kim Dotcom é a todos os títulos notável. Quem achar que o Megaupload é que é o problema é porque realmente não percebe nada do que se está a passar.

Em primeiro lugar porque  Kim Dotcom exibe, um a um, todos os argumentos - todos! - que defendem empresas como a sua em casos como o seu. E que explicam, de uma forma cristalina, como ele (ainda por cima por causa da sua personalidade exuberante e exibicionista) está a ser usado como exemplo e como bode expiatório. Faz lembrar Julian Assange e o paralelo está longe de ser inocente.

Em segundo lugar porque - como ele afirma, e bem! - a Microsoft também o está a fazer, a Google também, até a Ubuntu. Ou seja: ele é, como a Google, o Facebook, o Twitter ou o Instagram, um intermediário. Ele é o middle man. E culpar hoje o middle man é o mesmo que culpar o mensageiro. Confrontar o mensageiro - seja ele o Megaupload ou a Google - é desviar a atenção do essencial. O que importa, o que realmente importa, é aquilo que está a acontecer entre os pontos que o mensageiro une.

E é aí que entra Habermas. O que eu acho que está a acontecer, sinceramente, é desmercatilização da informação. A informação está a deixar de ter valor comercial. Habermas explicou como o lado comercial da informação destruiu o jornalismo, a esfera pública e a própria política. Pois bem, aquilo perante que estamos é exactamente a inversão desse caminho: a informação, que deixou de ter valor comercial por efeito da sua abundância, volta a instituir as virtudes clássicas do jornalismo - a internet é hoje uma réplica quase perfeita do jornalismo literário de Habermas - volta a instituir uma verdadeira esfera pública (já agora.. global) e repõe o primado da política. O mundo de hoje não pode deixar de ser, aos olhos de Habermas, um  mundo melhor!