Ontem, na aula de Teorias em Média e Comunicação, ouvi falar outra vez de Harold Lasswell, com a teoria hipodérmica, e de Paul Lazarsfeld com o seu Two-Step Flow of Comunication. Nomes e conceitos que não ouvia - e não utilizei - desde que fechei os livros há 20 anos. Fizeram-me falta? Nem por isso. Foram-me úteis? Certamente!
É muito curioso que, em 20 anos de jornalismo, nunca, que me lembre, tenha utilizado nenhum desses autores - ou as suas teses - em qualquer discussão ou decisão editorial. E no entanto a sensação que tenho é que eles estiveram lá sempre presentes, como fantasmas, por detrás do trabalho jornalístico de todos os dias.
Lembrei-me então das críticas que, enquanto jovens, fazíamos, quase todos, ao carácter muito teórico e pouco "profissionalizante" do nosso curso do ISCSP. Já na altura assim me parecia e agora confirmo: não há nada mais útil do que uma boa teoria!
Hoje, na aula de Práticas Discursivas do professor José Rebelo, voltei a recordar um nome longamente esquecido - Jean Baudrillard. Noutra aula já tínhamos falado também de Gilles Lipovetsky - dois autores que me lembro de ter lido há muitos muitos anos com ainda maior interesse.
Falámos de Jean Baudrillard a propósito desta tese fantástica: Os mass media procuram o maior denominador comum entre todos os públicos, procuram os temas do interesse do maior número possível de potenciais leitores/espectadores/ouvintes, procurando não hostilizar nenhuns. É neste contexto que se desenvolve o discurso da objectividade que vem até aos nossos dias. Ou seja - interpretação minha - a crença na objectividade jornalística (e a sua procura, pelo menos) é o resultado de um longo processo de inscrição ideológica do jornalismo na sociedade. Ou seja, o paradigma de comunicação vigente numa determinada época tende a inscrever-se ideologicamente na sociedade em que se insere e à qual serve. Hoje, vivemos provavelmente os dias finais de um paradigma de comunicação e da correspondente inscrição ideológica na sociedade. Já se discute o conceito de objectividade (ele inclusivamente já saiu do código deontológico), mas ainda se toma a objectividade como um valor de referência (aliás, depois da aula isso foi naturalmente tema de discussão acesa!)
A minha impressão é que, à revolução em curso no paradigma de comunicação, corresponderá uma "pulverizacão" completa do conceito de objectividade informativa. Com a profusão de blogues, redes sociais, plataformas de imagem e video, em que cada indivíduo pode ser autor/emissor, a subjectividade predomina sobre a objectividade. Isso já é notório em muitos aspectos e tenderá a sê-lo cada vez mais. Obviamente - como se comentava na discussão posterior - assim que largamos a objectividade como referencial (mesmo que o substituamos por algo como "honestidade"), abrimos caminho ao relativismo. E isso, hoje, a nós, ainda filhos da inscrição ideológica referida acima, suscita-nos muitas dúvidas.
Mas, se calhar, também é para isso que serve um mestrado... Não para nos dar certezas, mas para nos levantar dúvidas!
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