Esta tese não é nova (nem estou a usá-la directamente em nenhum trabalho), mas foi referida en passant por Jeff Jarvis neste video e eu voltei a lembrar-me dela.
Basicamente, coloca a hipótese de a evolução dos media nos últimos quatro séculos - de Gutenberg à Internet - seja afinal um fugaz parênteses de literacia num modo de comunicação que era antes e continuará a ser depois sobretudo baseado na oralidade. E que isso tenha influenciado a maneira como comunicamos, a maneira como apreendemos o mundo e a forma como produzimos cultura.
Obviamente, há muitos pontos de cruzamento entre esta tese e muitas outras teses conhecidas da evolução dos media. Pegando apenas nas que estou a estudar ou estudei recentemente, lembro-me obviamente de Marshal McLhuan e a oralidade das sociedades pré-modernas, mas também vejo pontos de contacto nas teses de Yochai Benkler ou até na forma como, no seu livro mais recente - "Communication Power" - Manuel Castells liga o tipo de comunicação que fazemos à forma como pensamos.
Esta ideia é portanto - parece-me - extremamente poderosa e, se for verdade, tem consequências profundíssimas. Começando provavelmente por sugerir que a existência dos media - sustentados em modelos de negócios - pode ser afinal não mais do que um mero interlúdio histórico. Porque corresponderiam a um "confinement" da informação, entre "parênteses" de diferentes tipos, dando origem àquela palavra tão repetida pelos responsáveis dos media mas que parece tão desfasada do tempo da internet: "conteúdo". Mas isso talvez seja ainda o menos importante. Que consequências terá isso tido na forma como fazemos ciência e na ciência que fazemos? E na forma como nos organizamos socialmente? Em casas, por exemplo. E politicamente? Com constituições escritas. E leis escritas. E em países, com fronteiras? São assombrosas as perguntas que geram perguntas!
A tese do "Parênteses de Gutenberg" é da autoria de Tom Pettitt, professor de literatura inglesa clássica na Universidade do Sul da Dinamarca, em Odense. Não há propriamente um livro para sustentar a tese, mas há um site onde se pretende que a investigação evolua, há um paper do próprio Pettitt e há várias referências espalhadas pela web, entre as quais esta a propósito de uma apresentação feita no MIT, do qual se fez o video abaixo. É longo (há um resumo escrito aqui), mas vale a pena ver para quem se interesse por estas questões. A tese é mind-blowing e é certo que não saímos dela como entrámos. Eu, pelo menos, não saí.
Gostava de voltar a esta tese algures no futuro. Pode ser que aconteça.
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