quarta-feira, 27 de março de 2013

Present Shock!


O conceito de timeless time que Castells associa à comunicação na era da sociedade em rede é levado ao extremo por Douglas Rushkoff neste livro recente: "Present Shock - When Everything Happens Now".
Para já é um trocadilho interessante - e assumido (explicado num dos videos abaixo) com o "Future Shock" do Alvin Toffler. Mas, sobretudo, leva o conceito de timeless time muito mais além e questiona muitos outros parâmteros da civilização a partir da era digital.
Obviamente, Douglas Rushkoff não é um cientista nem isto é ciência. Mas, quem tiver paciência para acompanhar os videos, pode encontrar muitas ideias de investigação bem interessantes.
Para mim, o tema do shift analógico/digital é central como tema de estudo, pelas consequências que parece ter não só na maneira como transmitimos informação (em sentido lato) como também na maneira como nos apropriamos dela, a arquivamos, a reutilizamos, etc. Nessa medida, as teses de Rushkoff são interessantes e desafiadoras. Ainda não consegui encontrar este livro em formato digital, mas estou a ansioso por lhe "deitar a mão". Não tarda nada vem pela Amazon em formato "sumo de árvore"!
Eis um video onde Douglas Rushkoff explica o que é o "Presente Shock". É um video longo, mas está carregado de ideias interessantes a todos os níveis. Além disso, o homem é tão frenético que chega a ser hilariante! Faz lembrar o Woody Allen. Quem preferir um video mais pequeno tem este, que também é recente, numa conferência da O'Reilly - http://youtu.be/cdawqlu0_JU - seguido de uma conversa com Eva Williams, um dos fundadores do Twitter - http://youtu.be/_MPXe4JwfAc




Por outro lado, uma fenómeno interessante - porque de certa forma incongruente - de que temos falado nas aulas de mestrado é o dos "drop-outs", as pessoas que embora reunindo os meios e as literacias para os usarem, abandonam voluntariamente a internet e/ou as redes sociais.
As teses de Rushkoff também são obviamente interessantes nessa perspectiva, porque sublinham o potencial de ansiedade que o o timeless time da era digital pode insinuar em quem não for capaz de prescindir de uma grau mínimo de controle. Nessa media, é interessante acompanhar esta conversa entre Rushkoff e Paul Miller, o jornalista do The Verge que há quase um ano decidiu "sair da internet" e voltar para contar a história.

sábado, 16 de março de 2013

Marx lives!

Não, não me refiro ao Groucho! Estou a falar do Karl, mesmo! Carlitos para o amigos.
Preparando este artigo - aliás excelente! - para uma apresentaçãpo em aula - "Loser Generated Content: From Participation to Exploitation", de Søren Mørk Petersen  - voltei a deparar (não é a primeira vez neste mestrado) com o cruzamento entre o marxismo e as novas tecnologias de informação e comunicação, nomeadamente no que se refere às suas consequências económicas e sociais. Que é precisamente aquilo que pretendo estudar.
A partir deste artigo descobri também esta tese de doutoramento de Nick Dyer-Witheford, que faz uma releitura de Marx à luz das novas TIC: "Cyber-Marx : cycles and circuits of struggle in high technology capitalism" (que aliás está integralmente disponível online através de uma licença Creative Commons).
O que Søren Mørk Petersen insinua e Nick Dyer-Witheford afirma claramente é que a releitura de Marx neste contexto tanto pode dar para explicar os desenvolvimentos actuais como uma extensão e até exponencialização do capitalismo, como para os apresentar como o prólogo da realizção d ideal comunista sobre a terra. Fala Dyer-Witheford:
"(...) the information age, far from transcending the historic conflict between capital and its labouring subjects, constitutes the latest battleground in their encounter; how the new high technologies--computers, telecommunications, and genetic engineering--are shaped and deployed as instruments of an unprecedented, world wide order ofgeneral commodification; and how, paradoxically, arising out of this process appear forces which could produce a different future based on the common sharing of wealth--a twenty-first century communism."
Ou seja, mais uma vez, parece estarmos perante a escolha entre a utopia e a distopia, como tantas vezes temos falado neste mestrado. Por um lado, a recorrência dessa dicotomia parece impor uma releitura de Marx neste quadro. Eu li Marx, directamente, enquanto jovem. Mas, para ser sincero, aquilo já me parecia um pouco desligado da realidade à época, quanto mais agora! Mas de facto, a reinterpretação de Marx no contexto actual parece fazer todo o sentido, sobretudo no quadro de uma investigação sobre o valor e a atribuição de valor nos processos comunicativos e informativos do nosso tempo. Ou seja, abre-se aqui um linha de investigação interessante que sem dúvida irei trilhar no futuro.
Por outro lado, como Petersen também refere, o que é preciso é uma nova abordagem sobre o valor do trabalho (para usar um termo central no marxismo) neste contexto, o que significa investigar e analisar as questões do acréscimo de valor colocado nas produções culturais e informativas. O que quer dizer que estou no bom caminho!

P.S. Já agora: percebi que Søren Mørk Petersen foi escrito antes da tese de doutoramento. Esta tem o título "Common Banality: The Affective Character of Photo Sharing, Everyday Life and Produsage Cultures" e também me parece interessante. Mas ainda não a consegui encontrar onlie em lado nenhum... Se alguém a encontrar...

quinta-feira, 14 de março de 2013

Intemporalidade, convergência e revolução

Quando vi a mais recente campanha da Zon, criada sobre o conceito "Timewarp - Viajo no tempo", lembrei-me logo da noção de "timeless time" de Manuel Castells.
Aliás, há quase um mês tinha chamado a atenção para a forma como a campanha do Meo evocava uma das acepções daquilo que se pode entender como convergência dos media segundo Henry Jenkins.
Que as duas maiores "transportadoras de sinal" nacionais toquem em dois dos conceitos mais fundamentais da nova paisagem comunicativa, isso é em si mesmo uma coincidência interessante.
Mas na realidade pode significar bem mais do que uma mera coincidência. Porque - estou eu aqui a pensar - o que isto significa, basicamente, é que a Zon acabou de descobrir - e está a tentar monetizar - um dos traços constitutivos da arquitectura da comunicação em rede: a bidireccionalidade. E a questão nem sequer é se vai (vão...) a tempo. A questão é se isso faz sentido. Porque o facto de os canais de comunicação na internet funcionarem nos dois sentidos é tão natural para a rede como respirar é para o ser humano. Por isso, de certa forma, o que a Zon e a Meo estão a fazer é praticamente o mesmo que os jornais fizeram quando criaram websites para colocar as notícias online; que é fazer mais ou menos a mesma coisa para responder a uma realidade que é radicalmente diferente. Estamos a perceber hoje, nos jornais, que não sabemos o que é que vai ser o futuro da comunicação, mas sabemos que não vai ser isso.
Com as "transportadoras de sinal" pode estar a passar-se algo semelhante. Procuram estar onde "está o negócio" na esperança - se calhar vã - de que exista de todo um negócio no futuro da comunicação. Pode estar a começar acontecer-lhes agora o mesmo que aconteceu aos jornais e revistas quando lançaram os seus primeiros websites. Querem estar ali porque aqui já não se está bem. O que não quer dizer que ali se esteja melhor!
Afinal, o que é que fez o Skype às operadoras telefónicas tradicionais? O que é que o Facetime fez ao Skype? Ou o Facebook ao Facetime? Ou o Google+ ao Facebook? Podíamos ficar aqui eternamente a argumentar futilmente sobre quem ganhou a quem, sem repararmos no facto essencial de que todos perderam. A abundância de informação reduz o seu valor assim como a multiplicação de canais reduz o potencial de rentabilidade de cada um. E não há nada mais multiplicador do que tornar bidireccional aquilo que antes era unidireccional.
Obviamente, tudo o que está para cima é especulação e futurologia. Na verdade é algo que nem devia ser "permitido" num blogue "académico". Mas serve para ilustrar que é isso precisamente que pretendo estudar cientificamente neste mestrado. Não o modelo de negócio das operadoras de internet - ou pelo menos não apenas - mas a própria ideia de um modelo de negócio como forma viável ou desejável de transmitir socialmente a informação na era da internet. Esse tem sido o traço comum a tudo o que tenho feito neste mestrado e irá continuar a sê-lo no futuro.
Hão-de emergir, se não certezas, pelo menos convicções cientificamente fundadas. Uma das que já vislumbro - que que já tive oportunidade de tratar num trabalho ou outro - tem a ver com a escala global em que operam as Google e Facebook deste mundo. Ao contrário do que normalmente se pensa - argumento eu... - não é que elas sejam ricas porque são globais. É exactamente o contrário: elas NÃO SÃO pobres porque são globais. E é porque as vemos globalmente que perdemos de vista que o seu "modelo de negócio" está na realidade tão deteriorado como os outros. Dito de outra forma, quando valorizamos em bolsa uma Google ou Facebook pelo potencial de negócio que resulta do facto de ela operar globalmente (tem não-sei-quantos milhões de utilizadores...), estamos a valorizá-la com "instrumentos de medida" concebidos para o nosso mundo; não para o próximo! Estamos a valorizá-la em função do potencial que achamos que ela pode gerar devido ao número de clientes e não em função do que ela efectivamente gera por cada cliente que serve. Ou seja, é intrínseco à forma como a informação se torna abundante e os canais se multiplicam socialmente que o valor unitário da informação necessariamente se reduz. E não há nada que nem a Google nem o Facebook possam fazer quanto a isso. A não ser, talvez, esconder a evidência com a exuberância dos seus "números". Um dia espero poder estudá-lo e prová-lo!

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Os fãs das marcas de automóveis e a criação de valor

Para a cadeira de Culturas Digitais, Fãs e Web 2.0 era suposto escolhermos e estudarmos um fandom.
Eu procurei dirigir o estudo para aquilo que no fandom pode significar acréscimo de valor. E escolhi estudar nessa perspectiva o Fórum Autohoje Online. Primeiro porque é uma comunidade perfeitamente estabelecida e solidificada e, depois, porque basta olhar para ele para perceber que há muitas decisões de compra - muitas mesmo! - que são tomadas depois de uma "consulta" ao fórum. Ou seja, as recomendações peer-to-peer desempenham um papel fundamental para quem frequenta e consulta o fórum e, nessa medida, são um exemplo do tipo de acréscimo de valor que as comunidades online exercem sobre o seu objecto. Tanto em favor da marca ou marcas de que os membros da comunidade são fãs como em favor da plataforma na qual constituem a comunidade e exercem esse acréscimo de valor. Ou seja, neste trabalho interessava-me tentar perceber de que forma os fãs das marcas de automóveis que frequentam o fórum acrescem valor às marcas de que são fãs. Mas - tão ou mais importante - interessava-me também perceber como é que acresentam valor à própria comunidade, pois essas conclusões são aquelas que podem ser extrapoladas para todas as comunidades de user-generated content. Para o Fórum Autohoje Online mas também para o Facebook, o Twitter, o Instagram, o YouTube, até o Google Search. É isso que realmente é novo na forma como organizamos social economicamente a maneira de comunicar e é isso que me interessa estudar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Google, Facebook, Twitter e YouTube: os novos media da sociedade em rede

Este foi para mim o trabalho mais importante deste semestre. Por uma razão: de todos os que fiz é aquele que está mais próximo da espinha dorsal do que pretendo estudar neste mestrado.
Já há muito tempo que tenho a opinião de que, quando os media tradicionais olham para a internet fazem-no com uma perspectiva enviesada que tende a tomar os outros media tradicionais nas mesmas circunstâncias como os seus concorrentes. Adoptam essa perspectiva no pressuposto errado de que são produtores de informação quando na realidade são apenas seus distribuidores. Do ponto de vista da função social dos media, os seus concorrentes são na realidade as google, facebook, twitter e youtubes deste mundo. Na maior parte dos casos os media tradicionais até falam com orgulho - ironia - das suas páginas de Facebook, do seu Twitter, dos seus canais do YouTube, não percebendo que na realidade o que estão a fazer é a alimentar os seus coveiros! Aliás aquela ideia recente  - "saiam da internet!" pode até ser menos disparatada do que parece.
Outros media tradicionais confrontam as google deste mundo, mas, mesmo isso, fazem-no numa base errada: olhando para elas como uma espécie de piratas e não como concorrentes. Na realidade, em muitos anos a acompanhar estas matérias, acho que nunca vi ninguém ligado aos media tradicionais a olhar para estes "novos media" como aquilo que eles realmente são: os seus concorrentes nativos do novo mundo digital. Este trabalho é sobre isso. E penso que faz o essencial para o explicar.
Mas é também sobre duas outras ideias que na verdade se limita a aflorar e que requerem óbvia continuação no futuro: a redução do valor unitário da informação e as consequências económicas, sociais e até políticas que isso poderá ter. Isto sim, é o que me interessa!


domingo, 17 de fevereiro de 2013

A convergência da informação

A convergência da informação é uma tese argumentada, entre outros, por Henry Jenkins. Basicamente diz que os modos de expressão cultural que hoje conhecemos e que viveram durante muitos anos associados a diferentes "media" tendem a convergir para a internet: a televisão, a rádio, os "jornais", etc.
Isso obviamente levanta muitas questões interessantes em relação aos modos da narrativa. Transformações que estamos apenas a começar a vislumbrar e que estamos apenas ainda a "arranhar" em termos de investigação: os blogues e as redes sociais face aos media tradicionais; o YouTube face à televisão; o Spotify face à rádio, etc. Essas transformações nos modos de exercer a narrativa merecem estudo e gostava de poder abordar esse assunto algures neste mestrado, o que ainda não aconteceu.
Mas o aspecto mais interessante da tese da convergência está na forma como ela conjuga o determinismo e o voluntarismo. Determinismo tecnológico e voluntarismo social, para ser mais preciso.
Como Henry Jenkins vê bem, a convergência tanto pode ser um processo de cima para baixo, liderado pelas empresas, como pode ser um processo de baixo para cima, liderado pelos consumidores. Dan Schiller vê-a exclusivamente na primeira perspectiva; Yochai Benkler apenas na segunda. Será a "continuação do capitalismo por outras formas" se a primeira prevalecer; será uma revolução de consequências imprevisíveis se prevalecer a segunda. A escolha será social e não individual. Por isso é que os movimentos tipo "occupy" são tão interessantes: mesmo transcendendo largamente esta questão específica, eles representam a percepção, às vezes ainda difusa, de que há um património colectivo que é preciso reclamar, mas que não é fácil de delimitar e precisar. Se essa reclamação não for bem sucedida, a convergência dos media na internet tenderá a realizar-se ao serviço de interesses particulares. Mas realizar-se-á. Porque a convergência, para além de uma escolha social, é também uma determinação técnica.
No quadro da apropriação empresarial da convergência dos media na internet fala-se muitas vezes dos media tradicionais (os grande estúdios, as mega-editoras, a Walt Disney, os grande conglomerados de media), fala-se algumas vezes dos gigantes tipo Google, Facebook, Twitter, etc (que eu tentei apresentar como "os novos media" num trabalho que ainda não posso divulgar), mas esquece-se quase sempre estes actores, que "passam por entre os pingos da chuva" como se não fosse nada com eles: os fornecedores de acesso.
O que era a Meo (ou a Zon) há 25 anos atrás? O que era a At&T ou a Comcast há 35 anos atrás? Eu ainda me lembro de como aquilo que eram os TLP-Telefones de Lisboa e Porto se transformaram nos dois gigantes que são hoje a Meo e a Zon. Qual será a magnitude de acumulação de riqueza que explica esta transformação? E de onde vem esse dinheiro? Estas perguntas impõem-se sempre que vejo os anúncios da mais recente campanha da Meo, que tem precisamente a convergência dos media como eixo central. A convergência de media pode transformar-se em apenas isto: uma nova proposta comercial ao serviço afinal, não dos media ou dos fornecedores de informação, mas exclusivamente ao serviço dos donos das antenas e dos cabos em que a informação circula.
Eu já argumentei neste mestrado que a Google, o Facebook, o Twitter, o YouTube, etc, são na realidade os "novos media" (embora não com a documentação que gostaria). Falta-me analisar os fornecedores de acesso e a sua emergência como players principais no novo mundo da comunicação. Espero poder fazê-lo algures no decurso deste mestrado.

As contingências do discurso político no quadro da sociedade em rede

Este foi - de longe - o trabalho que me correu pior em todo o primeiro semestre. Por várias razões.
Primeiro porque a cadeira - Práticas Discursivas - é uma cadeira sui generis no contexto do mestrado, uma espécie de epifenómeno académico. O professor José Rebelo é um professor notável, à moda antiga, com um saber enciclopédico e - longe de irrelevante - com formação francófona numa área académica predominantemente anglo-saxónica. As suas aulas foram as melhores do semestre (com excepção das do professor Fausto Colombo, de que já falei aqui). Foi nas aulas do professor José Rebelo que voltei a ouvir falar de jornalismo no sentido clássico, de Baudrillard, Paul Ricoeur, Gilles Deleuze, Gilles Lipovetsky, Ortega y Gasset e, até, José Gil. Por isso, a avaliação muito centrada na análise linguística de um discurso foi para mim desde início uma dificuldade. Porque saía um pouco fora daquilo que pretendia fazer: contextualizar o estudo feito nesta cadeira com o caminho geral do mestrado; é isso que tenho procurado fazer sempre.
Segunda dificuldade: logo no princípio decidi que uma abordagem interessante seria analisar uma notícia de um jornal de referência - o Público ou o Expresso - e comparar essa notícia com os blogues de política que se referiam a ela. A ideia era usar uma notícia que tivesse a ver com a crise ou com a chamada "refundação do Estado Social", como esta, por exemplo. Pensei em fazê-lo usando o interessante serviço de tracking Twingly, que o Público era na altura (e penso que ainda é) o único grande media português a utilizar. Ora, só para me lixar (!!!) os senhores do Público decidiram mudar o site (e suspender temporariamente o serviço Twingly) justamente na semana/semanas em que eu tinha que fazer a avaliação.
Ou seja - terceira dificuldade - acabei por escolher um pouco à pressa o discurso que ia analisar e escolhi a carta dirigida por António José Seguro a Pedro Passos Coelho a propósito da refundação do memorando de entendimento, um documento tão inócuo como o seu autor. A ideia era analisar de que forma o exercício desse discurso era contingente, limitado e e condicionado pelas envolventes políticas e pela necessidade de tentar controlar os seus efeitos, e de que forma a respectiva interpretação e leitura ao nível da blogosfera era diversa, incondicionada e de certa maneira, incontrolável. Daí a referência à deterioração das condições de controlo do discurso político por parte dos agentes políticos. E isso era exactamente o que me interessas estudar nesta cadeira. E que - sinceramente - acho que devia ter ficado muito mais bem estudado. É portanto um tema a que gostaria de voltar mais à frente. Porque a consequência lógica da crescente dificuldade que os agentes políticos têm em controlar as condições de recepção e interpretação do discurso político é naturalmente o divórcio entre representantes e representados. E isso, tem tudo a ver com a situação política mais abrangente que hoje vivemos na maioria das democracias representativas.
Aliás, eu tenho centrado muito os meus estudos sobre as transformações da comunicação e das tecnologias de informação nas respectivas vertentes sociais e económicas. E isso tem sido propositado. Mas acredito sinceramente que é no campo político que essas transformações serão mais importantes e significativas. Esse é outro assunto que um dia gostaria de estudar. E se já li muitas coisas que me pareceram bastante interessantes do ponto de vista de explicarem o que é que se está transformar nas sociedades em termos económicos e sociais por causa da revolução da comunicação em curso, ainda não encontrei um autor que satisfatoriamente fizesse o mesmo no que se refere à política. Porque parece evidente a qualquer espírito lúcido que a magnitude das transformações em curso não podem deixar de ter um impacto massivo na política (o autor que mais se aproximou, na minha opinião, terá sido Daniel Innerarity; e gostaria de voltar a ele aqui um dia destes). Essa parte fica para o doutoramento... ;)