sexta-feira, 25 de julho de 2014

O valor económico e social da informação no quadro da sociedade em rede

E pronto! A dissertação de mestrado está entregue, defendida e avaliada! O que significa que o mestrado está completo!

Esta dissertação é uma investigação teórica (com dados empíricos) sobre a viabilidade dos media no quadro da sociedade em rede. A conclusão é que o modelo de negócio e a função social dos media não é sustentável na sociedade em rede e que eles foram substituídos na sua função por um conjunto de outras empresas - os "novos media" - que actuam como intermediários e não como produtores de informação. Mas - e aqui está a conclusão principal - também estes novos media são afectados pela redução do valor económico da informação e só podem subsistir na escala global em que naturalmente operam. Ou seja, tanto os media tradicionais como os novos media são afectados por aquilo que parece ser uma redução do valor económico da informação (ou o valor economicamente capturável da mesma, que é sensivelmente a mesma coisa). A diferença é que os segundo estão adaptados às condições de sobrevivência na nova sociedade em rede e os primeiros não.
Mas porquê esta redução do valor? Esta é uma pergunta que fiz a mim próprio (e a muita gente) durante vários anos, sem respostas satisfatórias. Porque razão o CPM da web é tão diferente do rendimento da publicidade em papel (ou em televisão)? Porque razão ganhamos menos dinheiro com milhões de utilizadores digitais do que com milhares de leitores das edições em papel? A resposta mais habitual (e menos insatisfatória...) era: "é por causa da abundância!" Sim, mas o que causa a abundância? Porque vivemos agora num ambiente de informação abundante e vivíamos antes num ambiente de informação escassa? A resposta, descobri-a nas várias (e intensas) leitura feitas durante o primeiro ano. As transformações em curso na sociedade em função da adopção (apropriação é o termo certo) das tecnologias de informação e comunicação digitais são vastas e profundas, muito mais do que parece à primeira vista. 1) vivemos agora numa sociedade em rede que tem SEMPRE linhas de comunicação em aberto e não tem um centro de comando da rede; 2) estamos a deixar de usar de tecnologias de comunicação analógicas e usamos cada vez mais tecnologias digitais comandadas por computadores; 3) a comunicação agora é bidireccional  e os indivíduos têm à sua disposição as ferramentas para produzirem, alterarem e partilharem informação como entenderem; e 4) as redes têm alcance global e portanto têm também alcance global todas as actividades que se desenrolam nelas e sobre elas (que hoje em dia são quase todas).
Mas o facto curioso - e, prevejo que ainda com mais implicações - é que se estas transformações implicam uma redução do valor económico (ou economicamente capturável) da informação, também parecem induzir um acréscimo de do valor social da informação, embora esse seja bem mais difícil de "medir". Ter informação em abundância a circular na rede e ter sempre disponíveis ligações de rede para activar é um elemento de enriquecimento da existência social dos indivíduos.
O que isto significa é que, se as transformações em causa reduzem o valor económico da informação, elas parecem incrementar o seu valor social.
Este é um paradoxo interessante e que ma parece abrir linhas de investigação muitos interessantes (que, aliás, não tive "espaço" para explorar na dissertação). Faz sentido que um motor de busca ou uma rede social dominante sejam exploradas por entidades privadas? Faz sentido aplicar a essas entidades globais as legislações nacionais? E os impostos? Será que a abundância faz da informação um bem público global? E, se sim, que consequências é que isso tem em termos de organização politica e social?
As transformações em curso nas tecnologias de informação e comunicação arrasam por completo o paradigma de informação e comunicação em que vivíamos. Mas têm consequências ainda mais vastas do que isso, basicamente porque não há construções sociais (e portanto construções políticas) sem comunicação. Ou seja, a hecatombe que ocorreu e está a ocorrer no sector dos media vai ocorrer noutros sectores da sociedade. Resta saber quais e como.

O resumo desta dissertação está no powerpoint abaixo. A dissertação, em formato integral e tal como sujeita a avaliação, está neste link.
A minha defesa foi feito perante um júri presidido pela professora Rita Espanha, com o professor Pedro Pereira Neto como arguente e o professor Gustavo Cardoso como orientador. Agradeço aos três as observações que fizeram, os elogios e - obviamente! - a espectacular nota de 19 valores!
Agradeço também à minha família, em especial aos dois "D", e a todos os colegas de mestrado.

A seguir espero que o trabalho realizado neste mestrado possa ter sequência noutras investigações que decorrem desta. Algumas já estão em caminho e serão conhecidas... quando o puderem ser.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Os media e a inovação


Na cadeira de Modelos de Negócio e Economia do Software de Código Aberto, leccionada por 3 professores diferentes, a avaliação era também um pouco estranha, com 60% da nota derivados de duas apresentações em aula sobre business models e 40 por cento resultantes de um trabalho escrito sobre inovação.
Na parte dos modelos de negócio, o mais interessante foi a descoberta do Business Model Canvas de Osterwalder. Não conhecia este recurso e realmente é muito interessante e desconfio que ainda me vai ser muito útil futuramente em termos profissionais. Quem não conhece e trabalha numa área que envolva o desenvolvimento de novos negócios deve ficar a conhecer.
O trabalho escrito sobre inovação partia de um modelo de inovação chamado Chain-Interactive Model e passava pro aplicar esse modelo a um negócio ou sector em concreto. Eu achei o modelo interessante (sobretudo pela sua complexidade) e achei que seria interessante aplicá-lo precisamente ao sector dos media. O resultado é o pequeno trabalho (mais curto do que os restantes) que está publicado na minha área do Academia.edu.
O mais curioso neste trabalho é que ele me permitiu sistematizar algumas ideias sobre a forma como as alterações do modo de produzir, distribuir e consumir informação afectam o negócio dos meios de comunicação social tradicionais e que transformações eles têm que (tentar) implementar para conseguirem adaptar-se às condições de inovação no novo mundo digital em que vivemos. É um trabalho mais ligeiro que o habitual, mas ainda assim merece aqui um referência. Está feita!

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Afinal para que servem as redes sociais online?


No segundo ano de mestrado, uma das poucas cadeiras envolve obrigatoriamente uma técnica de pesquisa. Supõe-se, como preparação para a construção científica da componente empírica da dissertação de mestrado. De todas as unidades curriculares disponíveis, esta - Análise de Redes em Ciências Sociais - foi a única que realmente despertou a minha atenção. Basicamente, porque era a única das cadeiras disponíveis que podia efectivamente ser útil para a construção de minha dissertação.
Para a dissertação estou a projectar, como já referi antes, uma parte de análise do valor económico da informação e outra da análise do valor social da informação. As conclusões resultarão do cruzamento entre as duas análises. Já sei muito bem como vou fazer a primeira parte, mas tenho ainda muitas dúvidas sobre como fazer a segunda. E devo dizer que não se dissiparam por completo.
Na cadeira de Redes Sociais Online fiz uma análise teórica do tema e foquei-me muito no conceito de Capital Social. A ideia, nesta UC de Análise de Redes em Ciências Sociais, era tentar operacionalizar a questão e fazer uma primeira abordagem - exploratória - às formas possíveis de analisar empiricamente o valor social da informação. E a conclusão principal é que isso deve ser pelo menos tão difícil quanto parecia à primeira vista!
Aprendemos as bases do Unicet e do Gephi e eu explorei por minha conta outras alternativas, como o NodeXL, o Netvizz, Datasift, etc. Acabei por fazer a análise com o NodeXL porque era o único que permite fazer o download directo de uma rede de Facebook (perfil, página ou grupo). Mas deu para perceber duas coisas: 1ª o volume de informação é tal que exige - para um estudo sério - exige capacidade de computação especial; e 2º as limitações de extracção de dados são um obstáculo difícil de transpor (mais uma vez, só com programação específica). Isto deixou-me um pouco apreensivo em relação ao desenvolvimento desta componente da minha dissertação. Tenho duas alternativas: ou encontro uma forma engenhosa de conseguir reproduzir empiricamente os percursos informativos que me interessa analisar; ou então tenho que me restringir aos estudos empíricos (bem interessantes, por sinal) que descobri nesta pesquisa e que na realidade não pude usar com a profundidade que merecem. Provavelmente vou apontar para esta segunda hipótese.
No essencial, completei neste trabalho as conclusões que já tinha explorado no trabalho de redes sociais. Basicamente, o que a massiva abundância de conexões na era das redes sociais online proporciona é uma disseminação massiva da informação, de uma magnitude inédita na história da civilização. E isso - considerando que do ponto de vista social mais informação é sempre melhor que menos informação - significa que a abundância de informação incrementa o seu valor social. Do ponto de vista teórico (e até tendo em conta os trabalho experimentais citados aqui) isso está bastante claro é é fácil de sustentar. Mas demonstrá-lo empiricamente é uma equação... complicada!
O trabalho integral está publicado na minha conta do Academia.edu. O resumo diz o seguinte:
"A análise formal de redes sociais é um instrumento poderoso para a observação da forma como se organizam os actores sociais e como decorrem os processos sociais que os envolvem. Com a massificação das tecnologias de informação e comunicação digitais e da internet registaram-se mudanças profundas e massivas na forma de distribuir informação na sociedade em rede. Neste trabalho iremos analisar essas transformações à luz da análise de redes sociais. Numa primeira fase abordaremos o conceito de rede social enquanto metáfora de carácter sociológico e as métricas mais importantes para o estudo em causa. Depois analisaremos as transformações teóricas que a sociedade em rede conectada por tecnologias digitais operou na distribuição de informação. E, numa terceira parte, olharemos em detalhe para os processos de distribuição de informação numa página de Facebook através de dois instrumentos de análise empíricos. Concluiremos analisando de que forma as observações efectuadas confirmam as transformações verificadas na distribuição de informação na sociedade em de que forma isso pode ter impacto na valorização social da informação."

Algures na conclusão está o seguinte:
 "A conclusão que tiramos, em linha com o que tinha sido inicialmente colocado como hipótese, é que as redes sociais online como o Facebook contribuem para um padrão de distribuição de informação fundamentalmente diferente daquele que existia anteriormente às tecnologias digitais. A bidireccionalidade das redes digitais e a facilidade de emitir, partilhar e disseminar informação levam a que a informação seja muito mais abundante nas redes sociais online mediadas por computadores do que alguma vez foi nas redes sociais não mediadas anteriores à era digital. O resultado, deste ponto de vista, é a super-abundância de informação na rede e forma fácil e exponencial como a informação pode circular e disseminar-se na rede.
O efeito prático, argumentámos, é que isso incremenda grandemente o capital social dos indivíduos, uma vez que lhes facilita a mobilização de recursos nos vários pontos de rede com os quais estão conectados. Ora, se entendermos a informação como um recurso social, então as redes sociais online contribuem para a abundância desse recurso. E, por outro lado, se considerarmos que a informação é um recurso que, do ponto de vista social, só adquire valor quando usado, então mais abundância significa maior valor, uma vez que mais agentes sociais poderão usar a informação se ela for abundante. É por isso que as redes sociais contribuem para o incremento do capital social de cada indivíduo e da comunidade como um todo. Donde decorre a conclusão de que a abundância de informação incrementa o seu valor social."
Claro que esta conclusão é um pouco abrupta. Não quer dizer que esteja errada. Não creio que esteja. Mas a sua sustentação não é ainda suficientemente sólida. Daí que o "passo" pareça demasiado "rápido" nesta parte final. Mas este é ainda um "work in progress". Esta é apenas mais uma fase.



sábado, 11 de janeiro de 2014

Prémio de Excelência ISCTE 2012/2013

Acho que ainda não tinha feito referência a isto aqui no blogue. Entre os vários Prémios de Excelência que o ISCTE atribui todos os anos lectivos, existe um para a melhor média de frequência do primeiro ano em cada um dos mestrados ministrados.
No mestrado de Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação a melhor média do primeiro ano foi a minha, com 17,90. Deu direito a um diploma, a uma cerimónia publica de entrega dos diploma no "Dia do ISCTE" e há-de dar um prémio de 1000 euros, quando for pago... (ainda não foi).
O Hugo Ramos esteve lá e filmou o momento para a posteridade! Obrigado, Hugo! Pela presença e pela "footage"!


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Do analógico ao digital

Um ponto de situação rápido sobre publicação de artigos. O estado da coisa neste momento é o seguinte: três artigos em língua portuguesa enviados para a OBS*, dois publicados, um recusado; um artigo enviado para uma revista estrangeira de topo recusado, depois reenviado para outra revista e presentemente em apreciação.
A notícia de hoje é muito boa e trata-se da publicação do segundo artigo resultante do mestrado na revista OBS*. E porque é que é uma notícia particularmente boa. Primeiro porque é um artigo que eu gostei muito de fazer e segundo porque é um artigo central na investigação que pretendo fazer e também - arrisco - no quadro analítico que é preciso ter para perceber na plenitude o que está a acontecer à produção, transmissão e consumo de informação no quadro da sociedade em rede. Quando abordamos numa perspectiva holista - como eu tentei fazer - percebemos que a passagem do analógico para o digital é o factor individual que melhor explica a multiplicidade de fenómenos sociais que eclodem à nossa volta na apropriação social das tecnologias de informação e comunicação. Não é o Google, nem é o Facebook, nem são os smartphones ou os tablets ou mesmo a internet - em sim mesma - que explicam essas transformações sociais (e económicas, e culturais!); é este simples facto da passagem do analógico para o digital. Por isso, compreender isto na plenitude é também, penso eu, uma condição para perceber verdadeiramente o que pode acontecer no futuro próximo. É em parte com base nesta reflexão que eu já tenho opinado que quem nos media continua a pensar em termos de "conteúdo" está a passar ao lado do problema. O "conteúdo" é incompatível com o digital. No mundo digital não existe "conteúdo" porque não existe "forma". E isso obriga-nos a repensar toda a questão. Eu percebi isso quando estava a fazer este trabalho e espero que quem o leia também perceba isso (se não perceber... é porque está mal escrito!).
Quando comecei a fazer o mestrado, não sabia que ia fazer este trabalho e nunca tinha pensado nele. Entrei no mestrado com um caminho teórico delineado. Só à media que ia estudando o assunto percebi que esta questão - a  passagem do analógico para o digital - devia ser considerada e, embora lateral ao corpo central da minha investigação, seria determinante do mesmo. Não é possível, por exemplo, pensar a questão do modelo do negócio dos media e do valor da informação sem considerar também, como pano de fundo, a migração da nossa civilização do analógico para o digital. Depois de fazer o trabalho (e até à medida que o releio) fico com a ideia que está é de facto um dos trabalhos mais importantes que fiz no mestrado. Se tivesse que começar de novo, talvez começasse por aqui...

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Ainda faz sentido a actualidade das notícias?

Há poucos dias um video de Maria João Pires, confrontada com um concerto (ou um ensaio, já veremos) para o qual não estava preparada tornou-se viral nas redes sociais.
A história tinha começado num jornal inglês - The Telegraph - sem ser claro se era um acontecimento recente; e era acompanhada de um video - alojado no YouTube - que era um trecho de um documentário mais longo cuja proveniência também não era clara.
Depois de a história se tornar viral nas redes sociais, quase todos os media portugueses - e até alguns espanhóis  - pegaram no assunto (como se pode ver aqui) e, ou reproduziram a história ou reproduziram o video. Primeiro facto curioso: quase nenhum acertou nas circunstâncias em que o episódio ocorreu ou quando ocorreu: foi há um ano? foi há 3 anos? Na verdade, se estiver correcto o esclarecimento "histórico" deste post no Facebook, a coisa ocorreu há 15 anos (!!!) e foi num ensaio e não num concerto.
Obviamente que é curioso que os media vão atrás das redes sociais. Isso, em si mesmo, já é motivo de reflexão para quem trabalha nos ou estuda os media. Mas isso, sinceramente, já não é novidade! Tem acontecido recorrentemente a partir do momento em que o media perceberam que as histórias virais das redes sociais lhes podiam dar pageviews. Muitas pageviews!
O que é mais interessante é a forma como este e todos os casos semelhantes questionam o conceito de actualidade das notícias. Como se pode ver no post Facebook acima e nos respectivos comentários, o que está subjacente é uma crítica à "incompetência" dos media para tratarem, profissionalmente esta história (o que significaria, provavelmente, ignorá-la! Precisamente por causa da falta de "actualidade"). Mas eu acho que, a bem do debate, devíamos experimentar voltar a questão do avesso.
Tomemos-me a mim próprio como exemplo: eu não conhecia esta história. Nenhum dos media que li há 15 anos a reproduziu (que eu me lembre) e ninguém me a recontou nos últimos 15 anos. No entanto, eu achei a história fascinante assim que tive conhecimento dela. Por isso a reproduzi. Claro que se pode perguntar, neste ponto, se eu fui verificar a respectiva "actualidade". Mas isso é voltar a entrar na espiral do imperativo de "actualidade" que referi anteriormente.
Voltar a questão do avesso significa precisamente questionar: e se fosse a "actualidade" que estivesse errada? Porque razão é que seguimos o conceito de actualidade ao ponto de acharmos que  os media são ridículos quando saem da agenda da "actualidade"?
O "caso" Maria João Pires é apenas mais um que demonstra como actualmente a circulação de informação se faz independentemente do conceito de actualidade. O que obriga a questionar se os media devem, hoje, seguir o imperativo da actualidade. A passagem do analógico para o digital tem, entre outras consequências profundas, essa (que não o é menos): a informação digital está sempre disponível e portanto o "tempo" da respectiva circulação não pode ser controlado, nem pelos media, nem por ninguém. Este video e esta história de Maria João Pires foi viral hoje, aqui, mas nada impede que não volte a reemergir daqui a 5 anos ou daqui a alguns meses noutro "local" diferente ("local" está entre aspas porque no mundo digital não há "locais", mas apesar de tudo ainda há relacionamento sociais online geograficamente fundados, ou seja, as nossas redes sociais ainda tendem a ser predominantemente "locais").
As transformações em curso na distribuição de informação na sociedade em rede geram epifenómenos como o do ressurgimento momentâneo desta história datada da pianista Maria João Pires. Embora isso possa parecer estranho, agarrar-mo-nos a categorias do antigamente - como a de "actualidade" - para explicar os fenómenos, pode gerar mais confusão do que clareza. O conceito de "timeless time" de Castells há muito que explica como e porquê o "tempo" assume contornos diferentes na sociedade em rede mediada por computadores. Ora, se o tempo, pela evolução das formas de comunicar em sociedade, se altera na sua natureza, porque razão não se deveria alterar o conceito de "actualidade" a que os media estão aparentemente tão imperiosamente submetidos? Os media podem ir atrás das histórias virais para conseguirem pageviews. E podem fazê-lo com mais ou menos "elegância". Mas nunca perceberão o que realmente está a acontecer enquanto não perceberem as consequências práticas dos conceitos de "timeless time" e "space of flows". Há "novos media" que - sem os constrangimentos da "actualidade", entre outros - estão a ocupar esse "espaço".
No limite é possível que a aceleração exponencial do tempo gere no final a sua supressão, como propõe Harmut Rosa no livro "Social Acceleration". Um "frenetic standstill" em que tudo acontece a todo o tempo e portanto nada muda na realidade e nada tem um rumo. Ou seja, a pós-história ou o fim da história. Aliás, se pensarmos que - como eu aprendi com Marc Bloch - a história começou com a invenção da escrita (o registo analógico dos acontecimentos), é pelo menos plausível que o registo digital dos acontecimentos altere novamente o conceito de história. Mas isso, é outra discussão... (to be continued).

P.S. Para quem achar que estas ideias são arrojadas, tenho um desafio ainda mais arrojado e - este sim - verdadeiramente assustador! Experimentem reler os parágrafos anteriores e substituir "actualidade" por "veracidade"...

domingo, 20 de outubro de 2013

Mestrado, ano 2

Começou o segundo ano de mestrado. Depois de ter publicado aqui todos os trabalhos submetidos a avaliação no primeiro ano, tenciono fazer o mesmo no segundo ano. Este ano lectivo terá apenas 3 unidades curriculares - uma obrigatória, uma optativa metodológica e uma optativa livre. Todo o trabalho será dirigido à produção da dissertação de Mestrado.

A unidade curricular obrigatória - Dissertação em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação -  irá correr todo o ano e conduzirá a uma dissertação que será orientada pelo professor Gustavo Cardoso. O meu objectivo é fazer uma dissertação sobre "o valor económico e social da informação no quadro da sociedade em rede" e o que pretendo basicamente é tentar perceber se a transição para a sociedade em rede afectou o valor (económico e social) da informação e como. Será uma dissertação que começa por ser teórica, mas recorrerá à recolha de dados de várias fontes (secundárias e ou primárias) para produzir conclusões.
O projecto de investigação está descrito detalhadamente no trabalho sujeito a avaliação na cadeira de Desenho de Pesquisa, mas acho que anda não tinha publicado aqui este powerpoint que apresentei na aula e que basicamente resume aquilo que irei estar a estudar ao longo deste ano.


Os meus colegas e amigos jornalistas não irão gostar dos resultados esperados desta investigação, mas, em rigor científico e bom senso profissional, estes são mesmo os resultados que eu espero obter. Lamento pelo jornalismo e pelos jornalistas, mas espero que possa contribuir para ainda ir a tempo de despertar algumas consciências!
Como acho que já tinha escrito aqui, esta investigação começou por ser motivada pela procura de um novo modelo de negócio para os media. Mas entretanto tornou-se algo mais do que isso. As transformações em curso nas sociedades modernas são muito mais massivas do que isso! A desconstrução do modelo de negócio e da função institucional dos media tradicionais é apenas uma das suas consequências colaterais. É possível que venham a ser encontradas novas formas de institucionalizar a distribuição de informação em sociedade e até é possível que os jornalistas venham a ter um papel social relevante nessa institucionalização, mas isso será já num contexto radicalmente diferente daquele em que vivemos e (alguns de nós) trabalhamos.
Daqui resultará uma dissertação que terá no máximo 40 páginas, com um grande formalismo de apresentação, que será defendida num acto público perante um júri, à boa maneira académica.

Para a cadeira opcional de metodologias escolhi Análise de Redes em Ciências Sociais. Uma das partes do projecto trata precisamente disto e pretende analisar as redes sociais online como veículo de distribuição de informação e, ainda mais do que isso, tentar perceber de que forma o valor da informação aumenta ou diminui com a multiplicação de ligações permitida pela sociedade em rede. No trabalho para esta unidade curricular tentarei fazer uma aproximação a esse estudo. Obviamente é possível fazer um inquérito às pessoas e recolher a sua opinião sobre o seu próprio comportamento online, mas eu gostaria de ir mais além e de usar ferramentas e indicadores quantitativos para chegar lá. É para isso que quero esta cadeira.

Para a cadeira opcional livre ainda fui à procura de uma cadeiras que se chamava Corpos Tecnológicos, estive temporariamente  inscrito numa interessante cadeira de Vigilância, Controlo e Identificação (que acabou por não se realizar) mas só enquanto não tive a confirmação que me podia inscrever em Modelos de Negócio e Economia do Software de Código Aberto, do mestrado en Software de Código Aberto. Naturalmente, é uma área completamente deslocada das que tenho frequentado até aqui (os colegas vêm quase todos de engenharia informática!), mas daqui pretendo tirar pelo menos três coisas: primeiro, um melhor conhecimento teórico e práticos sobre a construção e avaliação de modelos de negócio, para depois poder usar na minha dissertação; depois, um melhor conhecimento dos modelos de negócio alternativos aos dos media tradicionais, muitos deles open source, de forma a poder comparar uns com outros. Esta é ate ao momento a cadeira onde ainda estou mais perplexo, mas confio que a coisa irá a bom porto.

Houve outras novidades ao longo deste meses, mas sobre essas falarei mais tarde noutros posts.