"MasterPlan - About the Power of Google" é um dos muitos documentários que podemos encontrar no YouTube (ironia...) sobre a ameaça que constitui a quantidade de informação abertamente ou sub-repticiamente recolhida pela Google (e outras empresas semelhantes) no quadro da nova sociedade em rede em que vivemos.
Para a cadeira de Participação Política e Poder na Era Digital, esse era um tema que desde muito cedo pensava abordar, embora não soubesse bem como. Quando falámos em aula sobre a forma como o Poder dos media se manifesta em sociedade, decidi que era por aí que iria. Depois, tive a sorte de me calhar em sorte um texto de Dan Schiller - "Power Under Pressure" - para uma apresentação em aula.
O resultado foi uma espécie de 2 em 1: uma apresentação em aula feita em grupo com o Tiago e um trabalho sobre a forma como a alteração da paisagem mediática afecta as relações de Poder dos media em sociedade.
Para a apresentação em aula escolhemos o Prezi e fizemos isto que está aqui:
Para o trabalho propriamente dito juntei Manuel Castells (o excelente "Communication Power"), Yochai Benkler (que já disse aqui que é um génio!) e o já referido Dan Schiller. Benkler é um optimista, Schiller é um pessimista e Castells é... um realista. No sentido em que o potencial "revolucionário" das mudanças é evidente, mas a forma como se materializarão irá depender dos factores políticos, económicos e sociais que as revestem.
Neste trabalho argumento que "com a deterioração do modelo de negócio dos media tradicionais e a expansão dos modelos de negócio dos “novos media” - como a Google, o Facebook e o Twitter, por exemplo - assistimos a uma recomposição do poder económico à escala global que provoca alterações na relação de forças entre os vários intervenientes na cadeia informativa e também na articulação entre as diversas fontes de poder." E é isto - precisamente isto - que é preciso perceber para não embarcarmos em utopias ou em teorias da conspiração como a do video citado no início. A realidade é muitos mais complexa do que qualquer dessas duas coisas. Para sorte de quem a pretende estudar!
Blogue de acompanhamento ao Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação do ISCTE-IUL, anos lectivos 2012-2013. Reflexões sobre os temas tratados. Ligações relevantes e informações complementares.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Toda a informação científica devia ser livre!
Quando eu fiz a minha licenciatura ainda não havia internet, nem Google Scholar, nem papers em fomato digital - sim foi assim há tanto tempo! Basicamente, estudávamos pelos nosso apontamentos, por livros e por sebentas, normalmente sebosas.
Quando iniciei o mestrado calculei que o método de estudo fosse agora bastante diferente, como seria de esperar. E é. Como sabia que hoje quase toda a informação de que precisamos está disponível online de uma forma ou de outra, e que portanto os materiais de estudo e investigação também o estariam, houve uma coisa que para mim foi uma surpresa desde o primeiro dia: os repositórios de papers académicos com acesso pago ou reservado. Vocês imaginem - quem estuda não precisa de imaginar! - a frustração que é procurar aquele paper que aborda a questão exactamente naquela perspectiva; ou que tem exactamente os dados de que precisamos, e descobrir que só conseguimos ler o resumo e o resto tem que ser pago ou descarregado com um login e password obscuros! O que sentimos, precisamente, é que estamos perante um obstáculo que não devia lá estar. Sentimo-nos perante uma injustiça! Eu não sei quais são as razões económicas ou outras - se é que as há - para que isto seja assim. Mas trata-se de trabalhos académicos! Feitos apenas com objectivos académicos! Talvez um dia alguém me consiga explicar, mas de momento não consigo entender isto!
Confesso que não conhecia Aaron Swartz antes do seu desaparecimento recente. E só quando li informações biográficas sobre ele é que percebi que isto era justamente o que o tinha indignado há uns anos atrás. E que ele fez aquilo que - heroicamente - devia ter feito: tornar publicamente acessível aquilo que nunca devia ser outra coisa que não publicamente acessível.
Espero que o acesso restrito aos trabalhos académicos acabe rapidamente pois é uma vergonha!
[mais sobre Aaron Swartz]
Das muitas coisas partilhadas recentemente sobre Aaron Swartz, gostei particularmente deste pequeno texto de 2008, que em ele explica porque razão os trabalhos académicos não deviam ser pagos, e deste video aqui em baixo, com uma palestra em 2012. Vale a pena ver!
Quando iniciei o mestrado calculei que o método de estudo fosse agora bastante diferente, como seria de esperar. E é. Como sabia que hoje quase toda a informação de que precisamos está disponível online de uma forma ou de outra, e que portanto os materiais de estudo e investigação também o estariam, houve uma coisa que para mim foi uma surpresa desde o primeiro dia: os repositórios de papers académicos com acesso pago ou reservado. Vocês imaginem - quem estuda não precisa de imaginar! - a frustração que é procurar aquele paper que aborda a questão exactamente naquela perspectiva; ou que tem exactamente os dados de que precisamos, e descobrir que só conseguimos ler o resumo e o resto tem que ser pago ou descarregado com um login e password obscuros! O que sentimos, precisamente, é que estamos perante um obstáculo que não devia lá estar. Sentimo-nos perante uma injustiça! Eu não sei quais são as razões económicas ou outras - se é que as há - para que isto seja assim. Mas trata-se de trabalhos académicos! Feitos apenas com objectivos académicos! Talvez um dia alguém me consiga explicar, mas de momento não consigo entender isto!
Confesso que não conhecia Aaron Swartz antes do seu desaparecimento recente. E só quando li informações biográficas sobre ele é que percebi que isto era justamente o que o tinha indignado há uns anos atrás. E que ele fez aquilo que - heroicamente - devia ter feito: tornar publicamente acessível aquilo que nunca devia ser outra coisa que não publicamente acessível.
Espero que o acesso restrito aos trabalhos académicos acabe rapidamente pois é uma vergonha!
[mais sobre Aaron Swartz]
Das muitas coisas partilhadas recentemente sobre Aaron Swartz, gostei particularmente deste pequeno texto de 2008, que em ele explica porque razão os trabalhos académicos não deviam ser pagos, e deste video aqui em baixo, com uma palestra em 2012. Vale a pena ver!
sábado, 5 de janeiro de 2013
Convergência dos media
Só porque, quando li, me pareceu importante:
"Convergence is both a top-down corporate-driven process and a bottom-up consumer-driven process. Media companies are learning how to acceler- ate the flow of media content across delivery channels to expand revenue opportunities, broaden markets and reinforce viewer commitments. Consumers are learning how to use these different media technologies to bring the flow of media more fully under their control and to interact with other users.(...) Sometimes, these two forces reinforce each other, creating closer, more rewarding, relations between media producers and consumers. Sometimes, these two forces are at war (...). Media producers are responding to these newly empowered consumers in contradictory ways, sometimes encouraging change, sometimes resisting what they see as renegade behavior.
(...) The so-called media companies are not behaving in a monolithic fashion here; often, in fact, different divisions of the same company are pursuing radically different strategies, reflecting their uncertainty about how to proceed."
Henry Jenkins, "The Cultural Logic of Media Convergence", 2004.
domingo, 30 de dezembro de 2012
Conclusões com perguntas
Gosto de terminar as conclusões com perguntas.
Gosto que as conclusões não sejam o ponto de chegada, mas sim o ponto de partida!
Acho que vou pôr uma pergunta - ou várias! - em todas as minhas conclusões!
Gosto que as conclusões não sejam o ponto de chegada, mas sim o ponto de partida!
Acho que vou pôr uma pergunta - ou várias! - em todas as minhas conclusões!
sábado, 29 de dezembro de 2012
O parênteses de Gutenberg
Esta tese não é nova (nem estou a usá-la directamente em nenhum trabalho), mas foi referida en passant por Jeff Jarvis neste video e eu voltei a lembrar-me dela.
Basicamente, coloca a hipótese de a evolução dos media nos últimos quatro séculos - de Gutenberg à Internet - seja afinal um fugaz parênteses de literacia num modo de comunicação que era antes e continuará a ser depois sobretudo baseado na oralidade. E que isso tenha influenciado a maneira como comunicamos, a maneira como apreendemos o mundo e a forma como produzimos cultura.
Obviamente, há muitos pontos de cruzamento entre esta tese e muitas outras teses conhecidas da evolução dos media. Pegando apenas nas que estou a estudar ou estudei recentemente, lembro-me obviamente de Marshal McLhuan e a oralidade das sociedades pré-modernas, mas também vejo pontos de contacto nas teses de Yochai Benkler ou até na forma como, no seu livro mais recente - "Communication Power" - Manuel Castells liga o tipo de comunicação que fazemos à forma como pensamos.
Esta ideia é portanto - parece-me - extremamente poderosa e, se for verdade, tem consequências profundíssimas. Começando provavelmente por sugerir que a existência dos media - sustentados em modelos de negócios - pode ser afinal não mais do que um mero interlúdio histórico. Porque corresponderiam a um "confinement" da informação, entre "parênteses" de diferentes tipos, dando origem àquela palavra tão repetida pelos responsáveis dos media mas que parece tão desfasada do tempo da internet: "conteúdo". Mas isso talvez seja ainda o menos importante. Que consequências terá isso tido na forma como fazemos ciência e na ciência que fazemos? E na forma como nos organizamos socialmente? Em casas, por exemplo. E politicamente? Com constituições escritas. E leis escritas. E em países, com fronteiras? São assombrosas as perguntas que geram perguntas!
A tese do "Parênteses de Gutenberg" é da autoria de Tom Pettitt, professor de literatura inglesa clássica na Universidade do Sul da Dinamarca, em Odense. Não há propriamente um livro para sustentar a tese, mas há um site onde se pretende que a investigação evolua, há um paper do próprio Pettitt e há várias referências espalhadas pela web, entre as quais esta a propósito de uma apresentação feita no MIT, do qual se fez o video abaixo. É longo (há um resumo escrito aqui), mas vale a pena ver para quem se interesse por estas questões. A tese é mind-blowing e é certo que não saímos dela como entrámos. Eu, pelo menos, não saí.
Gostava de voltar a esta tese algures no futuro. Pode ser que aconteça.
Basicamente, coloca a hipótese de a evolução dos media nos últimos quatro séculos - de Gutenberg à Internet - seja afinal um fugaz parênteses de literacia num modo de comunicação que era antes e continuará a ser depois sobretudo baseado na oralidade. E que isso tenha influenciado a maneira como comunicamos, a maneira como apreendemos o mundo e a forma como produzimos cultura.
Obviamente, há muitos pontos de cruzamento entre esta tese e muitas outras teses conhecidas da evolução dos media. Pegando apenas nas que estou a estudar ou estudei recentemente, lembro-me obviamente de Marshal McLhuan e a oralidade das sociedades pré-modernas, mas também vejo pontos de contacto nas teses de Yochai Benkler ou até na forma como, no seu livro mais recente - "Communication Power" - Manuel Castells liga o tipo de comunicação que fazemos à forma como pensamos.
Esta ideia é portanto - parece-me - extremamente poderosa e, se for verdade, tem consequências profundíssimas. Começando provavelmente por sugerir que a existência dos media - sustentados em modelos de negócios - pode ser afinal não mais do que um mero interlúdio histórico. Porque corresponderiam a um "confinement" da informação, entre "parênteses" de diferentes tipos, dando origem àquela palavra tão repetida pelos responsáveis dos media mas que parece tão desfasada do tempo da internet: "conteúdo". Mas isso talvez seja ainda o menos importante. Que consequências terá isso tido na forma como fazemos ciência e na ciência que fazemos? E na forma como nos organizamos socialmente? Em casas, por exemplo. E politicamente? Com constituições escritas. E leis escritas. E em países, com fronteiras? São assombrosas as perguntas que geram perguntas!
A tese do "Parênteses de Gutenberg" é da autoria de Tom Pettitt, professor de literatura inglesa clássica na Universidade do Sul da Dinamarca, em Odense. Não há propriamente um livro para sustentar a tese, mas há um site onde se pretende que a investigação evolua, há um paper do próprio Pettitt e há várias referências espalhadas pela web, entre as quais esta a propósito de uma apresentação feita no MIT, do qual se fez o video abaixo. É longo (há um resumo escrito aqui), mas vale a pena ver para quem se interesse por estas questões. A tese é mind-blowing e é certo que não saímos dela como entrámos. Eu, pelo menos, não saí.
Gostava de voltar a esta tese algures no futuro. Pode ser que aconteça.
sábado, 22 de dezembro de 2012
Yochai Benkler... um génio!
É tudo.
De momento não tenho tempo para mais.
Espero um dia voltar ao tema!
sábado, 1 de dezembro de 2012
Hans Magnus Enzensberger
Não conhecia o pensamento de Hans Magnus Enzensberger e, pelo que já vi, parece-me que a academia não lhe tem dado o destaque merecido.
É verdade que Enzensberger não escreve segundo as regras estritas da academia (pelo menos na pequena parte que li), mas o que escreve merece ser citado. Decobri-o citado em "The Masses - The Implosion of the Social in Media", de Jean Baudrillard, com um trabalho chamado (em inglês) "Constituens of a Theory of the Media".
Eis alguns excertos de uns excertos que encontrei a circularem por aí na internet [se alguma alma caridosa encontrar algo mais completo, sou todo ouvidos!]:
And so on...
Algumas das perguntas colocadas no final destes excertos também são interessantes. E não me importava nada de lhes responder...
É verdade que Enzensberger não escreve segundo as regras estritas da academia (pelo menos na pequena parte que li), mas o que escreve merece ser citado. Decobri-o citado em "The Masses - The Implosion of the Social in Media", de Jean Baudrillard, com um trabalho chamado (em inglês) "Constituens of a Theory of the Media".
Eis alguns excertos de uns excertos que encontrei a circularem por aí na internet [se alguma alma caridosa encontrar algo mais completo, sou todo ouvidos!]:
"For the first time in history, the media are making possible mass participation in a social and socialized productive process, the practical means of which are in the hands of the masses themselves. Such a use of them would bring the communications media, which up to now have not deserved the name, into their own. In its present form, equipment like television or film does not serve communication but prevents it. It allows no reciprocal action between transmitter and receiver; technically speaking, it reduces feedback to the lowest point compatible with the system."
"The development from a mere distribution medium to a communications medium is technically not a problem. It is consciously prevented for understandable political reasons. The technical distinction between receivers and transmitters reflects the social division of labor into producers and consumers, which in the consciousness industry becomes of particular political importance."
"George Orwell's bogey of a monolithic consciousness industry derives from a view of the media that is undialectical and obsolete. The possibility of total control of such a system at a central point belongs not to the future but to the past."
"The liberal superstition that in political and social questions there is such a thing as pure, unmanipulated truth seems to enjoy remarkable currency within the socialist left. It is the unspoken basic premise of the manipulation thesis."
"Thus, every use of the media presupposes manipulation. The most elementary processes in media production, from the choice of the medium itself to shooting, cutting, synchronization, dubbing, right up to distribution, are all operations carried out on the raw material. There is no such thing as unmanipulated writing, filming, broadcasting. The question is therefore not whether the media are manipulated, but who manipulates them."
"The new media are egalitarian in structure. Anyone can take part in them by a simple switching process. The programs themselves are not material things and can be reproduced at will. In this sense the electronic media are entirely different from the older media like the book or easel painting, the exclusive class character of which is obvious."
"Anyone who expects to be emancipated by technological hardware, or by a system of hardware however structured, is the victim of an obscure belief in progress. Anyone who imagines that freedom for the media will be established if only everyone is busy, transmitting and receiving, is the dupe of (a) liberalism (...)"
And so on...
Algumas das perguntas colocadas no final destes excertos também são interessantes. E não me importava nada de lhes responder...
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